quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Notícias do Natal 2007 & Boas Novas de 2008

Dentro de algumas horas, sairá de Madrid, a bordo de um Airbus da Aeroflot, e vai de viagem até ao aeroporto de Samara, um cidadão com passaporte europeu e visto legal da Federação Russa, que dá pelo nome de guerra Alexandre Sousa e que se desloca até às Republicas do Volga e dos Urais para estudar.
Ficará alojado na Universidade Técnica de Aviação, localizada na cidade de UFA, capital da Bashkyria. A temperatura prevista para o dia da sua chegada situar-se-á entre os -12 graus e os -16 graus centígrados.
O nosso amigo decidiu fazer de UFA o pivot da sua estadia na Federação Russa, uma vez que terá de se deslocar periodicamente entre Perm e Samara, centros de I&D no âmbito do ressurgimento da indústria aero-espacial russa que beneficia actualmente, de importantes contratos por parte quer da Agência Espacial Europeia, quer do grande construtor aeronáutico franco-alemão.
UFA foi o local de nascimento do Sputnik
Alexandre (pensa) regressar em Janeiro próximo e tem agenda marcada para idas e vindas durante os próximos meses, entre a Ibéria e a Bashkyria e volta.
Boa viagem rapaz, Возвращает являются, и если


quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Claro que há desempregados & DESEMPREGADOS!!!


«Glossário»
enfermeiro = desempregado
médico = DESEMPREGADO

A notícia saiu um dia destes no Diário de Notícias (Rute Araújo & Rodrigo Cabrita) e passou-nos ao lado.

João Orvalho também deixou umas notas sobre o afluxo de jovens «certificados» com o 12.º ano que vão em breve, chegar às Universidades e Politécnicos com uma característica peculiar:
- Parece que sabem tirar uns cafés… espectáculo!

[[Governo paga 25 milhões a hospitais para formar médicos]]

O Ministério da Saúde teve que oferecer dinheiro aos hospitais para que este ano todos os alunos que acabaram o curso de medicina tenham colocação no internato (o estágio que se segue à licenciatura, sem o qual não podem exercer a profissão). As unidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS) não estavam dispostas a receber mais porque a formação é um peso financeiro acrescido, em altura de contenção de custos. E este ano há 300 (30%) a mais para colocar, que saíram, pela primeira vez, dos cursos criados nas universidades da Beira Interior e do Minho, aos quais se juntam os estudantes portugueses que estudaram no estrangeiro.

"Se esta situação não for resolvida, 2008 pode ser o ano da ruptura, em que haverá médicos no desemprego, num país em que existe carência [destes profissionais]", teme Rui Guimarães, presidente do Conselho Nacional do Médico Interno. Contactado pelo DN, o Ministério da Saúde garante que vai haver vagas para todos, mas certo é que até ontem não havia mapas publicados, o que é habitualmente feito, todos os anos, em Novembro.

Depois de perceber que os hospitais não estavam dispostos a receber mais pessoas, a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) teve que enviar uma carta aos conselhos de administração a explicar que vai assegurar, pela primeira vez, os encargos com os internos do primeiro ano (20873 euros por cada um) e pagará uma percentagem nos anos seguintes, do internado da especialidade (ver caixa ao lado).

"A ACSS conta com o apoio das Administrações Regionais de Saúde, no sentido da rápida identificação das capacidades formativas ainda em falta, de modo a assegurar o ingresso de todos os candidatos admitidos", refere a circular deste organismo, sublinhando "o pedido de reforço de capacidades formativas que, à data, ainda se encontravam em falta". A carta foi enviada a 7 de Novembro, dando um limite para as respostas a 22 desse mês.

"O Estado já não controla os hospitais, quase todos EPE [entidades públicas empresariais] e não consegue fazer mais do que pedir para receberem mais internos, o que é ridículo", critica Rui Guimarães.

Manuel Delgado, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares admite que, para as unidades de saúde, receber internos "não compensa".

"Os hospitais têm dois problemas. Um é económico - têm que lhes pagar. Outro é o impacto na produtividade - o desempenho dos serviços é mais lento", porque é necessário ensiná-los, afirma. Se o primeiro ponto ficou resolvido este ano porque o ministério paga estas verbas, o segundo mantém-se e "vai continuar a colocar-se" no futuro. Em particular nos internos do ano comum, que ainda não podem exercer nem ser utilizados como mão-de-obra nas unidades de saúde. O administrador do Curry Cabral, em Lisboa, diz mesmo que as vagas estão muito concentradas nos hospitais centrais e seria bom "que os hospitais distritais recebessem mais internos".

Serafim Guimarães, o coordenador nacional dos internatos, não garante que o assunto não se repita nos próximos anos, mas diz que é uma questão que tem que ser resolvida politicamente. "Os hospitais têm um novo estatuto, empresarial, e foi necessário discutir quem paga, o que foi feito e acordado. Os internos do primeiro ano dão prejuízo, é um investimento que o hospital faz", refere. E defende que estas verbas não devem sair dos orçamentos das unidades, até porque muitos internos vão depois para outros hospitais.

Mesmo com estes atrasos, o médico garante que o internato deverá começar no final de Janeiro. E refere que o atraso de um mês se explica pelo atraso ocorrido no ano passado, quando os internos só foram colocados em Fevereiro. "Têm que acabar o ano de internato para entrarem os novos".

sábado, 8 de dezembro de 2007

CANTARES - Juan Manuel Serrat, 1987

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar.

Antonio Machado
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sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Universidade do futuro = Universidade marginalizada




É verdade que estou de partida e quem fica de fora racha lenha. Bom exercício físico, em especial, se não for praticado com a cabeça. Gosto tanto disto que não me importo de ficar por aqui e andar por ali nem que seja com vínculo de estudante. Também me vou oferecer para Sábados de limpeza, Testes de usabilidade da rede Wi-Fi, Campanhas de Promoção do Portela + S.Jacinto e sobretudo para dar umas corridinhas na Praia da Barra à espera que o nosso bem amado PM apareça.
Continuo perspecto com a asinidade demonstrada, evidenciada, patenteada por gente responsável de tanta universidade portuguesa quando diz, irresponsavelmente, que a universidade não é «agência de emprego». Os nossos reitores andam afastados do mundo, sobrecarregados com este fado de ciência periférica e deitam bolas fora como qualquer jogador de quarta categoria quando sente que o jogo está a terminar e já não tem tempo de dar a volta ao resultado.
Debatemos de modo interminável todo o acessório de Bologna, enredamo-nos mentirosamente na teia temporal e organizativa, fazendo jus à nossa glória de burocratas mal acabados. Porém, confronto-me com escassa produção resultante da actividade de design de novos cursos, dos que a sociedade (de desempregados) necessita para os novos tempos. Falamos e debatemos imenso os parâmetros do sistema ou do anti-sistema de eleição das novas autoridades mas temos vergonha de engolir em seco a nossa ignorância de ideias e de propostas sobre autonomia de praticar a procura de recursos, sobretudo se pensarmos que a minha autonomia não é igual à do meu amigo, colega e camarada.
Dizer que há, nas nossas universidades capacidade e talento para abordar esse futuro, é um chavão repleto de Pais Natais a dizer que sim, provavelmente com o saco cheio de esquemas e de projectos e de iniciativas para o ano que espreita algures por aí.

Discutimos muito (¿!) acerca das vantagens da acreditação (fundamentada sobre papéis) ou do que deve ser a habilitação nacional que a partir das «novas oportunidades» deverá abrir a porta à carreira universitária, única preocupação dos Reitores, porque continuam a crer que aumentar o número dos alunos é a última e reencarnada esperança de vida até alcançar os 65 anos. Espantamo-nos, nada se tem feito em favor, nem a mínima análise sobre a interdisciplinaridade, algo fundamental porque é um terreno no qual se joga actualmente o grande avanço do conhecimento técnico-científico, que reclama um novo esquema de áreas de conhecimento.
A universidade é o sitio natural para os projectos mais destruidores da ‘patine’ institucionalizada, os que protagonizam real avanço do conhecimento, a educação e a evidência de capacidade para as tarefas profissionais, de maior intensidade na lida e administração desse conhecimento, a abertura de fronteiras para o futuro.
As instituições de educação superior e algumas também de investigação, segundo a sua especialidade e orientação devem ser capazes de assumir desafios em todos os terrenos, mesmo no da empregabilidade, porque definem a sua própria razão de ser.
Qualquer patarata, quanto eu, se dá conta que, em Portugal podemos constatar como a Universidade tem ficado à margem do desenvolvimento de muitas iniciativas que podiam ser genuinamente universitárias, mesmo que e provavelmente com alguns sectores de actividade económica, sobretudo porque são eles que possuem o emprego.
É urgente avisar toda a gente, que precisamos reflectir sobre a necessidade de que os recursos que se espalham sobre o tabuleiro e ficam à disposição e uso para o desenvolvimento técnico-científico produzam os melhores rendimentos. É necessário que a Universidade se organize de tal forma que mereça a máxima confiança para empreender essas iniciativas e consiga leva-las a cabo com eficácia. Aqui está uma das chaves para esse debate, quase permanente, sobre a Universidade que queremos e necessitamos.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Reitores desvalorizam desemprego

Após os números do desemprego universitário
Reitores desvalorizam desemprego


Perante os números do Governo que mostram que o desemprego qualificado está a crescer exponencialmente e que até os licenciados em Gestão já enfrentam esta realidade, os reitores das universidades portuguesas desvalorizam o problema.
Contactados pelo Diário Económico, os responsáveis das universidades de Lisboa, Coimbra, Minho, ISCTE e Católica são unânimes e garantem que: não há um excesso de licenciados em Portugal; os seus alunos não enfrentam o problema do desemprego após terminarem os cursos; as universidades não são “agências de emprego”.

Diário Económico
2007-11-27

O meu comentário:
Virgílio Machado, com a lucidez que o caracteriza, tem vindo a pôr o dedo na ferida.
Nós, que estamos de partida, ficamos sobressaltados porque tememos que o desemprego bata à porta dos nossos reitores e de acordo com a conversa da casa, se as universidades não são agências de emprego, como é que vai ser sô Reitor?
Será que me vai aparecer algum destes melros a bater à minha porta, lá na longínqua Bashkyria?

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O que György Pólya sabia e nós ainda não aprendemos




« Não podemos julgar o desempenho do professor se não soubermos qual é o seu objectivo. Não podemos discutir seriamente o ensino se não concordarmos, até certo ponto, àcerca do objectivo do ensino.»

« "Ensinar a pensar" significa que o professor não deve simplesmente transmitir informação mas também tentar desenvolver a capacidade dos estudantes para usarem a informação transmitida: deve enfatizar o saber-fazer, atitudes úteis, hábitos de pensamento desejáveis. Este objectivo precisa certamente de maior explicação (todo o meu trabalho pode ser encarado como uma maior explicação) mas neste caso vai ser suficiente enfatizar apenas dois aspectos.
Primeiro, o pensamento com que estamos preocupados não é o divagar quotidiano, mas um "pensamento com um objectivo" ou um "pensamento voluntário" ou "pensamento produtivo". Tais formas de "pensamento" podem ser identificadas, pelo menos numa primeira abordagem, com a "resolução de exercícios". Em qualquer caso um dos principais objectivos do currículo da matemática no secundário é, na minha opinião, o desenvolvimento da capacidade dos alunos para resolver problemas.
Segundo, o pensamento matemático não é puramente "formal", não está relacionado apenas com axiomas, definições e demonstrações rígidas, mas também com muitas outras coisas: generalização a partir de casos observados, argumentação por indução, argumentação por analogia, reconhecimento de conceitos matemáticos, ou sua extracção a partir de situações concretas. O professor de matemática tem uma excelente oportunidade para dar a conhecer aos seus alunos estes importantíssimos processos de pensamento "informais". O que quero dizer é que deve utilizar esta oportunidade melhor, muito melhor, do que se faz hoje em dia. Dito de forma incompleta mas concisa: deixem os professores ensinar demonstrando, mas deixem-nos também ensinar adivinhando. »

« Ensinar não é uma ciência mas uma arte. Esta ideia já foi expressa por tantas pessoas, tantas vezes, que me sinto até envergonhado por a repetir. Contudo, se deixarmos uma certa generalidade e observarmos, sob uma perspectiva instrutiva, alguns pormenores apropriados, apercebemo-nos de alguns truques.
Ensinar tem obviamente muita coisa em comum com a arte teatral. Por exemplo, imaginemos que um professor tem de apresentar à sua turma uma demonstração que conhece ao pormenor por já a ter apresentado diversas vezes em anos anteriores no mesmo curso. Na realidade, pode até nem estar entusiasmado com a demonstração. Mas, por favor, não mostre isso à sua turma! Se parecer aborrecido, a turma inteira vai ficar aborrecida. Finja estar entusiasmado com a demonstração quando começar. Finja ter ideias brilhantes no seu desenvolvimento. Finja estar surpreendido e exultante quando a demonstração terminar. O professor deve representar um pouco para bem dos seus alunos que, em alguns casos, poderão aprender mais através das suas atitudes do que através do conteúdo apresentado. Devo confessar que sinto prazer num pouco de representação, especialmente agora que estou velho e raramente encontro algo novo em matemática. Sinto alguma satisfação em reconstituir a forma como descobri no passado este ou aquele aspecto.
Embora de forma menos óbvia, ensinar tem também algo em comum com a música. Sabem com certeza que os professores não devem dizer uma coisa apenas uma ou duas vezes, mas três, quatro ou mais vezes. Porém, repetir a mesma frase várias vezes sem pausas ou alterações pode ser terrivelmente aborrecido e anular a própria intenção. Ora, o professor pode aprender com os compositores a fazê-lo melhor. Uma das principais formas de arte musical é "ar com variações". Transpondo esta forma da música para o ensino, faz com que se diga uma frase da forma mais simples e que depois se repita com uma pequena alteração; depois torna-se a repeti-la com um pouco mais de cor, e assim sucessivamente, pode finalizar-se retornando à formulação original simples. Outra forma de arte musical é o "rondo". Transpondo o "rondo" da música para o ensino, repetir-se-ia a mesma frase essencial várias vezes com poucas ou nenhumas alterações, mas inserindo entre duas repetições algum material ilustrativo que provoque um contraste apropriado. Espero que quando ouvir da próxima vez um tema de Beethoven com variações ou um "rondo" de Mozart pense em melhorar o seu ensino.
O ensino pode também ter algumas semelhanças com a poesia e, de vez em quando, aproximar-se da profanação. Posso contar-vos uma pequena história sobre o grande Einstein? Ouvi uma vez Einstein falar para um grupo de físicos numa festa. "Porque é que os electrões têm todos a mesma carga?" disse ele. "Bem, porque é que as pequenas bolas dentro do esterco de cabra têm todas o mesmo tamanho?" Porque terá Einstein dito tais coisas? Só para fazer alguns snobes levantar a sobrancelha? Não que ele não fosse pessoa para o fazer. Penso que seria. Ainda assim, foi provavelmente mais profundo. Não me parece que o comentário de Einstein seja casual. De qualquer forma, aprendi com ele que, embora as abstracções sejam importantes, devemos usar todos os meios para as tornar mais tangíveis. Nada é demasiado bom ou demasiado mau, demasiado poético ou demasiado trivial para clarificar as nossas abstracções. Como refere Montaigne: A verdade é uma coisa tão grandiosa que não devemos desdenhar nenhum meio que nos conduza a ela. Portanto, não se deixe inibir se o seu espírito o levar a, nas suas aulas, ser um pouco poético ou um pouco profano.»

Texto emprestado por:
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/polya/traducao.htm
para partilhar pela comunidade de ignorantes que nós somos.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Quando a descrença penetra…


Correio da UA
Conselho Pedagógico cpedagogico@adm.ua.pt
Sender: "Docentes / Lista Geral da UA" docentes-list@ua.pt
Subject: [DOCENTES-LIST] Workshop Prof. Mitchell
Date: Tue, 04 Dec 2007 11:17:52 +0000
To: docentes-list@ua.pt

Caros Colegas
Venho realçar a relevancia do tema da workshop de amanhã, quarta-feira 5 de Dezembro, 14h30m-18h, Sala de Actos do edifício da Reitoria.
Com a recente criação da Agência Portuguesa de Acreditação iniciar-se-á, em breve, a acreditação de todos os programas de formação.
O conhecimento da experiência alemã, em que a acreditação segue um modelo próximo do português, ser-nos-á decerto muito útil.
Acresce que o Prof. Terry Mitchell, mercê do seu envolvimento muito activo no projecto Tunning tem também um conhecimento profundo das discussões e modelos seguidos na generalidade dos países europeus.
Apelo pois à participação do maior número possível de interessados na workshop.
Para os que ainda o não fizeram, devem enviar uma mensagem para mcmaia@ua.pt , manifestando interesse em participar na workshop.

Saudações académicas
António Ferrari
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Até Eu, crente, me surpreendo a pensar com os meus botões:
- Mas qué qu'eu lá vou fazer??? A Sala de Actos até só tem 90 lugares.

Filhos de Lusitanos pelas ondas do mar nos vamos



Cada um fala de si, da experiência das suas feridas, do gosto amargo das derrotas – isto de não conseguir entregar a carta que levamos em mão é não chegar lá – da falta de álcool ou outro solvente de limpeza para tornar a cicatriz mais brilhante, do retracto que tentamos seja de perfil porque nos favorece (sempre o imaginário à frente) e mesmo que tenhamos muitos estudos, que o nosso contador de horas de leitura esteja no topo, mesmo com isso tudo, sentimos os joelhinhos a tremer na hora de defender a sagrada Pátria.
Até eu, um não-patriota, sou homem para pegar no ferro de pedreiro – pesa uns largos quilos de metal – e fazer de conta que estou preparado para esganar, rasgar, quebrar, matar: -Em nome de princípios que o meu professor Cabrito, se esfalfou por inculcar nos neurónios da jovem criança que chorava a cantar o hino pátrio.
Depois cresci, ou fiz de conta, apaixonei-me pela álgebra de Boole, pelo acelerador de partículas do CERN, pelo IBM 370, por uma jovem arquitecta chilena de seu nome Candelária, por uma doce angolana chamada Elsa, por tantos rios tantos montes tanta gente que, quase no final da vida, já só resta o confessar que tanto amei.
Esta escrita hoje está muito profunda. Às vezes é incontornável abrir a tampa do poço.
Estudei e estudo em muitos lugares do mundo. Sempre achei graça ao enigma bem simples que constituía o meu linguarejar castelhano, quando as noites de Madrid nos levavam desde La Gran Casa del Imperio até ao amanhecer na Casa del Campo, brincando com o meu acento (boliviano) que era tudo, menos galego do sul, como é o caso.
Sempre me senti um homem da Ibéria, muito antes de Saramago ter conhecido Pilar.
Talvez por isso, mantenho o Memorial do Convento como o livro de sarar as minhas mágoas em horas de partir outra vez por essa Ibéria fora em busca de ajuda.
Porque bateram à minha porta, porque estão algumas dezenas de portugueses na Bashkiria com meia dúzia de milhões de euros espalhados pelo chão e as mãos estão tão geladas que os dedos dificilmente se fecham sobre a moeda, porque os Viriatos, os Henriques, os Gamas e outros de ontem e de hoje, estão muito ocupados a decorar o pinheirinho do Natal com minúsculas lampadazinhas da China.
Vou esquecer que nasci aqui, apertar outra vez as xanatas, agarrar o bordão de caminheiro de Santiago e bater às portas da Ibéria, a pedir ajuda pois claro, mesmo com acento boliviano.
Vá lá Saramago, dá-me outra vez a mão! Que bem preciso.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Confesso Senhor, eu confesso…



Já tinha feito uma quantidade de coisas desde que o Sol da Senhora da Graça me havia batido nos olhos. Ressabiado do corpo gelado do dia anterior, tinha calçado as xanatas e ido para o estradão bater mais uns quilómetros, ajudado pelos cães dos caçadores que não perdoam aos gimbras como eu, a ousadia de andar na beira dos montes, porque hoje é domingo.
Saí cedo na direcção das serras da Lameira, ali entre Montim e Regadas porque o Zé Ferreira me havia dado notícia de uns penedos que lhe pareciam contar histórias de antigamente. Nós, por aqui, somos muito ciosos destas pegadas do ser humano, tão ciosos, que existe um planalto onde os romanos estiveram acampados 120 anos, e mal soubemos das primeiras fíbulas encontradas, levamos lá um arqueólogo, daqueles que já tem trabalho para o resto da vida e num domingo, duro como o diabo, gizamos o plano de ataque que consistiu «só», em contratar uma máquina para deitar mais 20 cm de uma camada de terra por cima de toda a área imaginada como acampamento.
Bom, mas isto é apenas um ‘fait divers’ deste meu dia.
Parei em Fafe para dar corda ao depósito do ‘gasoil’ e fui para a bicha de um daqueles milhares de Modelos que povoam as nossas pequenas cidades-aldeia. Apetecia-me um café ou dois e assim aconteceu.
Entretanto fui passeando os olhos pela fauna da manhã e parei na miúda que estava de serviço à máquina registadora dos pequenos-almoços. A carinha não enganava, aquela frescura toda vinha ali de Moreira de Rei, daqueles sítios onde os de fora ainda não se aventuram a fazer filhos. Aqueles traços são inconfundíveis e o genoma das gentes mantém-se inalterável.
Era toda uma alegria de primeira vez, em que, saída fresquinha da formação a miúda perguntava tudo ao cliente, queria saber tudo, tudo explicava numa explosão de estar bem com aquilo que fazia.
Mau, como sou, hiper-super convencido como diz uma amiga minha, imaginei o que seria o mesmo filme daqui por um mês.
A rotina vai deixando cair as frases, a tentação de pedir o cartão a este mas esquecer pr’a aquele, o fechar a frescura do sorriso, perder o automatismo da chávena para um lado e o pão-com-manteiga para o outro, etc. e coisa e tal.

Mau, como sou, lembrei-me da maioria esmagadora dos nossos professores da educação superior, sem formação para ensinar, educar, instruir, explicar, apresentar, comentar, perguntar, brincar, e tantos outros verbos que fazem falta na nossa sala de aula.
Veio à minha memória, tantas primeiras vezes, de novos cursos, novas disciplinas, novos projectos, em que as duas primeiras sessões são como lua-de-mel. Depois, sucedem-se as descobertas: aquele porque ressona, aquela porque acorda sempre mal dormida, o outro que se levanta cedo, a outra porque antes das onze ainda é tudo negrura da noite. Falta-nos quase tudo, a nós, professores da educação superior, privilegiados porque o «dono» ou a «dona» da disciplina ainda somos nós mesmos, mas isso aparte, falta-nos interesse por parte dos Vice-Reitores, por parte dos Directores dos Departamentos, dos Directores dos Cursos, ninguém quer saber do que precisamos para manter a chama viva, apesar do intenso desgaste proveniente do uso.
Claro, claro que parte da culpa nunca foi solteira. Nunca contamos a verdadeira história desta cena. Pagamos para ter a célebre «liberdade» e «independência» e assim podermos brincar aos professorzinhos e às universidadesinhas.
Confesso Senhor, eu confesso, que os meus planos de aula são exagerados.
Confesso Senhor, eu confesso, que a maioria dos meus «powerpoints» não fazem qualquer outro sentido que não seja a função de «encher o chouriço».
Confesso Senhor, eu confesso, que não faço o mínimo esforço para que a minha lição seja dada de acordo com o que eu disse que ia fazer e tal qual eu disse como iria fazer.
Eu não tenho concorrência Senhor, por isso tu esperas, que eu seja digno bastante para dedicar 3 vezes mais do tempo da minha próxima aula à preparação da mesma.
Eu cometo muitas fraudes Senhor, na avaliação dos meus alunos e do trabalho que eles produzem. Sei que eles me aldrabam e convivo com isso pacificamente. No fundo, lá bem no fundo do meu íntimo, oh! Senhor, tu sabes que eu pago-lhes da mesma moeda.

Ufa! Já aliviei a consciência. Será que sou digno de comer alguma coisa?

- Não, não, não preciso da lista, só o prato faz favor.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Reinventar uma Escola de Investigação (Parte IV)

A investigação na Universidade Pública
A investigação de projecção internacional, por isso se diz «de excelência», bem como a transferência dos resultados para as actividades económicas empresariais – são primeiras escolhas para a Universidade Pública, que por isso, se reflectem no seu actual Plano Estratégico.

A Universidade tem registado cerca de uma centena de grupos de investigação, que envolvem 850 investigadores, incluindo tanto os académicos já feitos, como o pessoal investigador em formação. Porque hoje, longe da imagem romântica do investigador isolado no laboratório, o seu trabalho é inconcebível se não for realizado dentro de um grupo, por vezes com membros de outros departamentos e de outras universidades, muitas vezes com pessoas que vivem e trabalham no estrangeiro. As actividades dos grupos são avaliadas periodicamente e, com base nos seus resultados é que a própria Universidade toma consciência do «como» pode ajudar o trabalho dos investigadores. O elevado nível atingido pela investigação académica na universidade, está bem reflectido no facto de começar a aparecer no ranking internacional, através de referências feitas aos trabalhos publicados pelos investigadores da instituição nos últimos 10 anos. Dada a dimensão da juventude e da Universidade, este é um importante reconhecimento internacional.
Mas a universidade não é só o ‘maravilhoso’ mundo de investigação ao nível académico, porque tudo isso tem de ser traduzido em elevada taxa de sucesso na obtenção de financiamento externo. Assim, a Universidade está envolvida em projectos, sob a cobertura de um programa tipo “Consorcio Estratégico Nacional em Investigação Técnica”, que financia grandes agrupamentos de investigação tecnológica, capazes de atingir relevância mundial, estamos a falar de volumes na ordem de 200 milhões de euros.
Estes projectos estão relacionados com, por exemplo, energia eólica ou novos combustíveis. De facto, este domínio das energias renováveis, dificilmente teria sido capaz de alcançar o elevado desenvolvimento atingido, sem trabalhos de investigação e formação de engenheiros conduzida pela Universidade.

Para além dos projectos acima mencionados deve mencionar-se também os benefícios do Programa-Quadro europeu de I & D. Actualmente, os investigadores da Universidade pública participam em projectos com recursos económicos que a União Europeia criou para financiar essas linhas prioritárias de investigação Europeia. O valor económico dessas participações de investigadores é mais de um milhão de euros.
Além disso, no ano passado, investigadores da Universidade estiveram em público a anunciar 50 novos projectos. Entre os mais importantes, 30 projectos que são financiados pelo Plano Nacional de I & D e de Inovação, pelo Ministério da Ciência e outros ministérios, para um montante de 2 milhões de euros, bem como 20 projectos de âmbito regional num montante de 1,4 milhões de euros, sendo 11 destes projectos encomendados pelo Ministério da Educação, no valor de 300 milhões de euros.
Não se investiga apenas aquilo ou os projectos, para os quais se consegue obter financiamento dos programas de I & D governamentais ou outros parecidos. Mais um aspecto, e também muito dinâmico, é a actividade de investigação que é feita para as empresas. Assim, o resultado do trabalho dos investigadores na Universidade pública é transferido directamente para os agentes económicos e sociais, principalmente na região. Assim, no ano passado foram assinados 120 contratos de investigação, para um valor de 2,2 mil milhões de euros, a pedido das várias entidades que caminham até à Universidade para encontrar um parceiro que lhes permitam lidar eficazmente com as suas necessidades científicas ou tecnológicas.
Dois terços das empresas que contraíram compromissos de investigação são regionais, ao passo que existem também entidades estrangeiras que chegam à Universidade para solicitar serviços de I & D. Estes incluem nomeadamente a Agência Espacial Europeia, que durante alguns anos manteve colaborações frutuosas. Para além destas acções para as empresas, as mesmas também encontram respostas para as suas necessidades, através do Serviço de Apoio à Investigação, que, além de dar apoio às necessidades dos grupos de investigação da Universidade, realiza análises, sob encomenda, com a garantia oferecida através da sua certificação ISO 9001-2000.


Em resumo, a Universidade Pública, para além de promover e incentivar o trabalho dos seus investigadores, não faz senão procurar que a investigação – uma actividade fundamental da universidade, em conjunto com a docência – alcance uma qualidade excelente, reconhecida no âmbito internacional. Assim, a região conta com esta sua universidade, criada pelas instituições locais e sustentada por elas, como uma poderosa plataforma para o seu desenvolvimento económico e social.
Mas, enquanto a investigação, básica ou aplicada, beneficia directamente a envolvente socioeconómica em que ocorre, não se detêm aí: o avanço do conhecimento humano (isto é o que nos traz, em última instância, a investigação) não tem fronteiras e indirectamente está a beneficiar toda a sociedade, actual e futura.