terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Filhos de Lusitanos pelas ondas do mar nos vamos



Cada um fala de si, da experiência das suas feridas, do gosto amargo das derrotas – isto de não conseguir entregar a carta que levamos em mão é não chegar lá – da falta de álcool ou outro solvente de limpeza para tornar a cicatriz mais brilhante, do retracto que tentamos seja de perfil porque nos favorece (sempre o imaginário à frente) e mesmo que tenhamos muitos estudos, que o nosso contador de horas de leitura esteja no topo, mesmo com isso tudo, sentimos os joelhinhos a tremer na hora de defender a sagrada Pátria.
Até eu, um não-patriota, sou homem para pegar no ferro de pedreiro – pesa uns largos quilos de metal – e fazer de conta que estou preparado para esganar, rasgar, quebrar, matar: -Em nome de princípios que o meu professor Cabrito, se esfalfou por inculcar nos neurónios da jovem criança que chorava a cantar o hino pátrio.
Depois cresci, ou fiz de conta, apaixonei-me pela álgebra de Boole, pelo acelerador de partículas do CERN, pelo IBM 370, por uma jovem arquitecta chilena de seu nome Candelária, por uma doce angolana chamada Elsa, por tantos rios tantos montes tanta gente que, quase no final da vida, já só resta o confessar que tanto amei.
Esta escrita hoje está muito profunda. Às vezes é incontornável abrir a tampa do poço.
Estudei e estudo em muitos lugares do mundo. Sempre achei graça ao enigma bem simples que constituía o meu linguarejar castelhano, quando as noites de Madrid nos levavam desde La Gran Casa del Imperio até ao amanhecer na Casa del Campo, brincando com o meu acento (boliviano) que era tudo, menos galego do sul, como é o caso.
Sempre me senti um homem da Ibéria, muito antes de Saramago ter conhecido Pilar.
Talvez por isso, mantenho o Memorial do Convento como o livro de sarar as minhas mágoas em horas de partir outra vez por essa Ibéria fora em busca de ajuda.
Porque bateram à minha porta, porque estão algumas dezenas de portugueses na Bashkiria com meia dúzia de milhões de euros espalhados pelo chão e as mãos estão tão geladas que os dedos dificilmente se fecham sobre a moeda, porque os Viriatos, os Henriques, os Gamas e outros de ontem e de hoje, estão muito ocupados a decorar o pinheirinho do Natal com minúsculas lampadazinhas da China.
Vou esquecer que nasci aqui, apertar outra vez as xanatas, agarrar o bordão de caminheiro de Santiago e bater às portas da Ibéria, a pedir ajuda pois claro, mesmo com acento boliviano.
Vá lá Saramago, dá-me outra vez a mão! Que bem preciso.

2 comentários:

Regina Nabais disse...

Venho eu, de longe, longe muitas léguas, para espiar como andam os astros da blogosfera, e dou de caras com nuvens carregadas de mau tempo, logo, num dos nossos blogs de mais alto astral...
Aqui, só para nós Alexandre, conte-nos lá, não estará só com uma daquelas birras de sono e de farta canseira, pois não?

Abraço, boa viagem até terras de Castela.

Alexandre Sousa disse...

Cuidado com as palavras:
Não se deve pronunciar a palavra Castilla no Euskadi;
nem em Gipuzcoa, nem na Bizcaya, nem em Álava.