Professors as producers (VII)
Como nesta coisa de dormir sou bom escuteiro, dei conta do SMS só ao erguer da matina, enquanto tentava fintar o vício de acordar ao som da água fria. Acho que a mensagem ajudou a empurrar o meu lado espartano p’ra frente, ganhando claramente às raízes atenienses que tanto orgulho tenho em exibir.
Tem graça, o meu amigo não escreveu a palavra Educador… mais ainda, essa coisa de Treinador cheira-me a influência dos jornais.
Deixemos por agora, o papel do Educador e respectivo ‘label’ e regressemos ao jantar com os empreiteiros, lembram-se? Aquele onde se discutia a educação da classe operária? Perdão, dos Quadros; quadros, redondos, bicudos, tudo. Se há gente que tem consciência sobre a prática, no âmbito da sua actividade, são os mestres-de-obras. Experimentem tentar explicar a um pedreiro (também pode ser a um arquitecto) a diferença entre o «saber fazer» e «competências». A brincar a brincar, ambos são conceitos fundamentais para a prática da gestão de base tecnológica, mesmo que não saibamos muito bem o que é que isso é.
Das muitas leituras que fiz, com o fim de evidenciar sabedoria, recordo uma, não sei exactamente escrita por quem, que descrevia competências como sendo “requeridas para a realização de tarefas que não estão programadas, nem são de rotina”. Distinção feita, do conceito saber fazer: “execução de tarefas de rotina”.
Sinto-me encravado porque estou a adivinhar o comentário do Administrador, meu amigo:
- Nesta Multinacional, todas as pessoas que comigo trabalham, sabem o “como”, sabem com “quê” e sabem “porquê”.
Claro, claro que tenho uma superioridade sobre este amigo que só sabe ganhar dinheiro: penso por ele e por mim. Há até quem diga que «sou um homem de muito penso».
Patati, patali, a verdade é que tenho de encontrar resposta para o imbróglio caído no Mobile da Optimus. Começando, como tantas vezes pela ponta da espiral, diria que o Professor talentoso q.b. ensina «competências» orientadas para o intangível. Sempre que ele se ultrapassa a si próprio, traz um problema prático para a sala de aula, nem que seja para desenfastiar, e vá de folia a desenvolver o «saber fazer» dos seus alunos; nessa altura, olhando bem para a camisola que ele traz vestida vejo claramente a equipa do Formador.
Sinto, nitidamente, a falta de uma peça neste puzzle.
Regressemos à espiral e vá de tentativa no refazer da caminhada.
O Formador, ultrapassada que está a etapa das “ideias básicas”, terminadas que estão as “experiências”, pode, se a isso ajudar engenho e arte, concentrar a sua atenção no aluno. Aí, será o Professor no seu melhor, ou seja com a camisola do Treinador.
Giro, giríssimo, é que aprendi estas coisas na sala de aula. Chamava-se Carla, falava suavemente e sem levantar 1/8 do tom normal de voz, fosse em que circunstância fosse. Os grupos trabalhavam na construção de uma solução para o problema da sessão e a Carla já havia pedido ajuda, uma e outra vez. A uma qualquer provocação minha – o professor também é um provocador – a Carla chamou-me a atenção:
- Porque não se senta aqui, na nossa mesa, e nos mostra como corrigir o trabalho?
Foi aí, nesse fim de tarde, que me juntei a Mourinho, Josualdo, Flores e tantos outros plenos de tranquilidade.