sábado, 24 de maio de 2008

Professors as producers (V)



Depois de várias tentativas de representação gráfica, quer o meu multinacional amigo quer eu, já estamos cansados de tanto pensar em tão pouco tempo.
Parece impossível que gente tão fina e tão culta mas tão vendável e individualista, não tenham tempo para ler meia dúzia de linhas que o seu assessor, consultor, contratado, com tanto sacrifício escreve. Nesta ânsia de reduzir a grafismos tudo o que cheire a palavra, chego a temer que grandes normativos como programas de governo e estratégias eleitorais passem a ser distribuídos apenas, em banda desenhada.
Alias, já lhe mandei dizer por SMS: ou lês nem que seja só uma linha, do que o teu amigo escreveu, acerca da Universidade-Empresa que encomendaste, ou recomendo à Alta Autoridade que investigue o mecanismo dos aumentos de preços das coisas que vendes, para além do algoritmo do teu último aumento como Administrador Executivo.

Nesta fase, em que nem sequer há campeonato, defronto-me com vários problemas qual deles o mais sindromático. Tá bem… eu sei que tudo se resolve com uma boa estratégia e um bom plano, eu sei isso. A questão nevrálgica é que, se o meu amigo Administrador, apesar da suposta eficácia da sua gestão empresarial, não consegue decidir entre dois caminhos e em tempo real, como vou eu poder, pobre homem, mergulhado em educação/formação de topo, passar dos grafismos às palavras, das palavras aos Normativos, aos Regulamentos, aos Estatutos, a todo aquele enorme disparate burocrático em que os meus Mestres se embrenharam e na teia dos quais tão finamente me aculturaram?
Definitivamente, preciso que ele se desinteresse do processo fundacional da coisa pública, que se volte para o nosso mundo privado, onde toda a cultura tem preço. Vejam-se os exemplos de Torneira do Amaral e Torneira Pinto; eles sim, eles compraram Editoras que são donas dos Escritores, também dos livreiros, também do Expresso, Sol, Público e outros jornais desportivos. O académico vende alguma coisa? Se vende… então, estamos interessados; diga o seu preço. Os académicos são como os livros, a métrica do seu valor é a mesma, ou seja mede-se em Euros.

Ontem, olhava para a sala de aula. Hoje, olho para os candidatos a autoridades da sala de aula. Também estou com montes de problemas na condução do diálogo com este tipo de gente. Estou com a sensação de que a maioria dos doutorados (sim, porque o resto da cambada não passa de alistados e voluntários) se sentem anestesiados no meio de tanta segurança laboral que estas resmas de Normas & Regulamentos & Estatutos, lhes transmitem. Sim, é certo que haverá um ou outro nostálgico que murmura sem grande auditório, que tanta normativa será o meio encontrado por governantes e executivos de topo para que eles se possam evadir do quotidiano e deixem a quem sabe, a solução real dos problemas que a sociedade coloca à Universidade, à autentica, à única, à verdadeira. O importante é que o Professor esteja rodeado de tranquilidade e de silêncio. Deixem o ruido administrativo, deixem a gestão, a administração a quem sabe. Já nos basta a nós, que temos a Ponte Vasco da Gama, a Galp, Modelo, TMN, Brisa, sei lá mais o quê, as espinhosas decisões que nos custam os cabelos da alma, que oprimem o nosso indefectível portuguesismo (Alô, alô seu Mexia, aquele abraço) e ter ainda que regulamentar produtos e produtores da administração pública... Não! Decididamente não. Na tal estrutura (ou será textura?) que o meu multinacional amigo irá decretar, mais tarde ou mais cedo, apenas irá aparecer um soberano: Só o valor e nada mais que o valor. Tudo para nós vai girar à volta desta ideia: O valor para nós é tudo.

A nossa Universidade-Empresa (se bem que não esteja decretado que assim se chame) concebida sob pensamentos, palavras e obras mercantis, não pode ter como objecto a qualidade científica, dada a preocupação fundada, segundo a qual os estudantes consigam a graduação ou certificado ou diploma por via de critério quantitativo; não há qualquer evidência de que os critérios qualitativos ainda sirvam para alguma coisa.
Ah! Já esquecia um pormenor muito, muito importante:
- Não esquecer o recrutamento de mais professores low cost. São uma massa anónima, discreta, obediente, mais recibo menos recibo, sem grande preocupação de métodos e outras tretas. A hora é de acção.
Vê lá se gostas deste blueprint:
Primeira tentativa de ORGANOGRAMA:
Três ou 4 trutas, daqueles que dão aula de gabardine vestida – seja Outono, seja Verão - mais 40 dos alistados/voluntários e aí centena e meia de recém bacharelados, para arrumar mesas, limpar o quadro, verificar o software da Microsoft, testar os powerpoints, fotocopiar uns textos, mudar o toner das impressoras, tirar café ao balcão, limpar sanitas, cumprir a escala do securitas, assim de momento, não estou a lembrar mais nada de significativo…

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