domingo, 25 de maio de 2008

Professor low cost or low cost professor?



De todos os SMS que tenho deixado no telemóvel multiempresa do meu amigo Administrador, ele, que à velocidade a que ganha dinheiro só pode ser uma pessoa inteligente, reagiu e bem, aquela parvalheira de nos dedicarmos ao professor low cost. O sarilho – com esta gente de multinacionais nada é linear – é que a resposta continha em si mesma uma pergunta: - Estás a pensar em ‘professor low cost’ ou em ‘low cost professor’?

Estou em suspenso. A primeira reacção (defensiva) muito profissional foi abrir vários Guias do IQF. Depois, naturalmente, visitei páginas e páginas dos meus colegas do Dept.º Ciências da Educação não desfazendo do que se faz no Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa, mas sem sucesso. Concordo com o Ministro, às segundas, quartas e sextas do Ensino Superior; às terças, quintas e sábados, da Ciência e Tecnologia: - Não existem professores com características de flexibilidade, que possamos despedir por inadaptação ao posto de trabalho! Mas que vamos cortar uns tantos contratos, lá isso, terá de ser.

Quem tem culpa de me ter passado palavra sobre esta precisão do low cost foi a Cláudia. Nascida numa faculdade de letras ali para os lados do Monte da Caparica, aterrou no aeroporto de Pedras Rubras e de quando em quando, cruzando-se comigo em Francelos, traz à memória uma promessa nunca cumprida que foi a de descascarmos esta história do low cost. Os neurónios são de facto muito traiçoeiros.

Neste domingo de chuva, em que as encomendas para estar, hoje (ao jantar), à minha mesa de assado em forno de lenha (acácia, giesta e codesso) são mais do que as mães, sinto-me particularmente vocacionado para a caridadezinha. Tenho pena do professor low cost que acredita piamente no PowerPoint e que nunca experimentou, em sala de aula, deixar apenas o primeiro slide esparramado na parede e repetir de dez em dez minutos: - Como ireis ver noutros slides… e blablablablablablablablablablabla; até chegar o final da lição. Que gozo Senhor, que gozo.
Tenho pena do low cost professor que anuncia na sala de aula, outras realizações, onde eventualmente possa vir a recuperar o poder de compra que se esvai no dia a dia. Tenho pena do professor low cost que oscila entre o enviesar para um livro editado pela LeYa e outro da GuYma, porque dali virão, quem sabe, traduções, arranjos, embalagens, distribuições.
Oxalá que MFL, PPC, PSL, venham a derivar da posição liberal (Alô, alô Carlos Silva, aquele abraço) para um gostinho, ainda que ligeiro a social-democracia (será que se lembrarão do que isso é ou significa???); pelo menos para os professores crentes em telejornais e promoções avulso, no mínimo, esse deslizar ajudará a suportar mais uma semana de aumentos da GALP. É que o low cost professor deixou de comer bolas de Berlim para colaborar na campanha da obesidade, deixou de acreditar no Benfica após ter ido à festa de despedida do Rui, se não o deixam ir de popó para a escola e o obrigam a partilhar o transporte escolar da Autarquia, então que se lixe esta treta toda, é preferível ir para Cuba numa excursão de oftalmologia.

Por mal dos meus pecados, apesar de tentar fintar a escrita, sinto uma dor aqui no lado esquerdo que, traduzida, repete: Vê lá se lhe dizes alguma coisa!

Falando de botão para botão – mesmo que esteja vestido com T-shirt – consigo alinhavar duas ou três ideias:
● Há ou não há um modelo para entregar educação/formação, lá no meu sítio?
● Lá no meu sítio, acredita-se no «negócio» de educar/formar?
● Os rapazes e as raparigas lá do meu sítio estão conscientes que há tecnologia associada a esta profissão de professor?

Vou pensar nestas coisas. Tem de ser. É que o meu amigo Multinacional pode lembrar-se de aparecer na minha mesa, mais logo?!
É por isso que o futebol dá jeito. Em havendo campeonato, passa-vos pela cabeça que isto do professor low cost mereça 5 minutos, sequer?

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