segunda-feira, 26 de maio de 2008

Professors as producers (VI)





Afinal o meu amigo Administrador não apareceu ontem ao jantar. Foi pena, pena que não tivéssemos a sua fina visão sobre uma coisa que me consome a alma nesta minha caminhada para a tal Universidade-Empresa (atenção: o nome ainda não está decidido…), e que se descasca em poucas palavras:
- Colocamos o foco no «saber fazer» ou nas «competências»?

Durante o acto sagrado de trinchar o cerdo ou o presunto dele que ocupava lugar central na mesa de ontem, não chegamos a acordo. De um lado, os mestres-de-obras meus amigos que são todos a favor do «saber fazer». Chamaram-me a atenção – às vezes em termos muito pouco decorosos – para a importante contribuição que tem sido dada pelo sector para a inovação dos processos na indústria portuguesa.
Fiquei abespinhado. Como? Como é que a construção civil tem contribuído para a inovação dos processos?
- Fomentando a (i)emigração para Espanha e França, ora essa! Quase gritou o ‘Espanhol’, empreiteiro da Gandarela de Basto, que exerce feio e forte ali para as bandas de Valladolid.
Aproveitei a deixa e à que mostrar o meu lado de rigor científico:
- Oh! Espanhol, estás a falar de emigração com ‘e’ ou com ‘i’?
- Das duas, doutor, das duas. Qualquer que seja a emigração é só trabalhar para a inovação. Cada vez que eles vão e vêm só trazem modas novas.
Fiquei calado como um chasco. Aquela do Espanhol dava uma tese de doutoramento.

Bem, vamos passar adiante, porque rebentada que está a discórdia, quem paga são as garrafas do branco da Lixa ou as do tinto recomendado pelo Cunha do ‘Cá-te-espero’.
Para o bem e para o mal, fiquei com a pulga atrás da orelha, ou seja, iria ter mais cuidado na preparação da proposta para o meu amigo Multinacional.

Vai não vai, pé ante pé, trouxe outra conversa para a mesa. É que não havendo conversa na mesa, aqueles tipos comem e bebem que ninguém os aguenta.
Sem dizer nomes, fui lançando umas biscas lembradas de um tipo que andou pelo mundo à muitos anos atrás, e fui dando ideias (como se fossem minhas) sobre uma certa visão do treino dos líderes para o estado político ideal. Claro, claro que eles interpretaram logo que eu estava a mandar bitaites sobre o truelo MFL, PPC e PSL, mas não era verdade. A minha (?!) mensagem pretendia tão só, apontar a ideia de que era crucial para o sucesso da futura Universidade-Empresa começar com boa matéria-prima […] Mas também, que acreditava que o treino (formação) e a experiência prática eram fundamentais. Os que vierem a inscrever-se na tal Escola que a Multinacional vai criar vão passar por estudos rigorosos de aritmética e geometria, com uma saudável dose de atletismo para equilíbrio do corpo e da alma. Depois, virá a experiência prática no serviço público ou militar. Tudo isto deve ser acompanhado de estudos aprofundados em filosofia […] Através de muitos anos de preparação, eu (?!) tenho testado os candidatos que me passam pelas mãos e tem sido possível determinar quais os que devem passar para o nível seguinte de estudo e experiência prática. Ouçam bem: Ao chegarem à idade de 50 anos – sim, eu disse 50 – os nossos candidatos estarão preparados para governar as empresas.

O ruído à volta mesa foi espectacular. Ainda deu para perceber a voz rouca do Manel Vitela a murmurar: - Está bem está. Bem vais esperar sentado.

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