sexta-feira, 23 de maio de 2008

Professors as producers (IV)



A universidade é um lugar ideal para a reflexão. Nunca me senti tão bem senão nos intervalos dos conflitos, em que o Grupo A decide o que o Grupo B «não pode fazer». Têm várias tácticas treinadas para que isso seja assim, dominam todas as operações que garantem o êxito de acordo com a estratégia congeminada. Não é isso que me tira o sono.
Sempre olhei a universidade como um sítio cheio de poder e de poderosos que fizessem de mim o homem mais importante do nicho que escolhi para assentar. Não foi difícil, só lá estava eu.
Embora não o possa dizer de modo ríspido, tenho para mim que o edifício a propor à multinacional do meu amigo não se vai chamar Universidade. Vou ter de escrever pelo menos umas 200 páginas A4 (100000 palavras) para justificar o que não quero.
As alternativas não são muitas: Escola, Instituto, Observatório, Centro de Investigação,… (?!)
Como irão ser as salas de aula? Daquelas com as cadeiras todas alinhadinhas em fila indiana? Ou daquelas em linha, em que a malta quase não consegue ter os joelhos em ângulo recto? Gosto mais de mesas para 4 ou 6; muito mais do que o ‘layout’ em U. Os meus amigos de Mondragón usam o modelo do «vezes 8», com o facilitador a escrever no flip-chart. Chatice… eu não gosto de flip-chart, muito menos de gastar uma pessoa a escrever naquelas folhas enormes de papel que por ali ficam enroladas e amarrotadas a um canto da sala. Para dizer a verdade, vou propor mesas para 3 pessoas. Pronto!

Os académicos gostam de trabalhar geralmente em grupos de UM. Preferem o face-a-face, se possível com o espelho; não sendo possível, então veremos se os enquadramos em grupos muito pequenos. Esta escrita, é anárquica; tão depressa trata da sala de aula como salta para a organização interna dos professores, mestres e outros craques. Pois, pois, mas as salas de aula vão estar plenas de autoridade. E quem é essa autoridade? Quem é? Alguém mais ou menos académico ou com tiques de tal. Os académicos raramente alinham em grandes grupos. Mesmo que a maior parte do seu tempo seja gasto (investido) a tentar compreender os seus pares. Por isso se avaliam uns aos outros. Por isso o coça-coça se faz sempre aos pares.
Daí, que (não)compreenda esta inusitada preocupação, inquietação, por exemplo, dos meus amigos da U.M. sobre a (in)existência de faculdades, departamentos, escolas disto e daquilo. Por mim, dou sentença, outra vez favorável ao célebre diagrama organizativo da matriz de competências e de compromissos. Eu sou competente no campo da estatística (aritmética política) – não confundir com: sei fazer estatísticas – logo: devo envolver-me nos projectos/disciplinas que necessitam de conhecimento estatístico.
Os professores do tal centro de gestão do conhecimento – o que virá aí e o que queremos passar aos que estão connosco – não sei se quem manda irá gostar do nome, vão fazer daquele sítio um local de trabalho. Vamos (pelo menos ali) valorizar o trabalho e assim sendo, não vejo necessidade de dividir os crânios em grupos mais pequenos e arrumá-los em edifícios e salas tão pequenas como os grupos. Os cérebros podem entrar e sair de uma discussão reflexiva a qualquer hora. Podem haver mesas e estantes arrumadas em diferentes cantos das salas; há homens que gostam de estar no meio de mulheres e mulheres que se sintam bem no meio dos homens. Que diabo!
Uma mesa grande pode converter-se numa comunidade alargada que está dedicada a um momentoso problema. É através dos que se sentam e dos que se levantam, dos que falam de música e dos que são fãs do YouTube que as culturas se misturam e assim por diante. A não ser assim, quem gostaria dos ‘Da Weasel’? Para além da malta da Cova da Moura?

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