quinta-feira, 22 de maio de 2008

Professors as producers (III)



O Professor na sua qualidade de produtor aparece muitas (algumas) vezes como proponente de coisa novas. 11 em cada 10 dessas propostas inovatórias estão condenadas ao fracasso, a não ser que a ideia tenha nascido na cabeça de quem esteja vestido com a camisola de Reitor/Presidente ou no mínimo de Vice-Reitor candidato a Reitor. Porquê? Por via da tal «democracia» académica, uma vez que a ideia não é minha, outras vezes porque essa ideia é melhor do que a minha, então:

H1: a proposta fica sentada numa cadeira perto de mim;
H2: a proposta vai dar uma volta a pedir vários pareceres e pode ser que volte um dia destes;
H3: esta proposta não tem pernas para andar;
H4: parece impossível, Alexandre! Lembrares uma coisa destas?!

Sou do tempo em que o Professor de Economia numa Escola de Agronomia tinha de ser engenheiro agrónomo. Um Professor de Sociologia na Faculdade de Farmácia tinha de ser farmacêutico. Todos os professores da Faculdade de Medicina têm de ser médicos ou no mínimo, licenciados em medicina, mesmo que ensinem estatística. Por estas e por outras, um pouco por toda a Europa, pelo menos um dos administradores da universidade passou a ser obrigatoriamente economista, gestor ou no mínimo, alguém com formação aparentada com a administração pública. Passa-me pela cabeça que os Governos, necessitados de evidenciar eficácia na gestão das IES públicas, foram sugerindo aos Reitores/Presidentes que dessem um ar de graça às equipas dirigentes das suas entidades, mantendo como objecto a educação superior mas enviesando a pilotagem do seu dia-a-dia com uma aragem empresarial. No sítio a que (ainda) pertenço, a abertura está preparada desde alguns anos atrás e obviamente, o foco apontado para fontes de financiamento, mesmo correndo o risco de que se cumpra aquele mandamento que diz:
- Quem paga, escolhe a música para o maestro tocar!
São riscos e os teóricos do costume, da política, da TV e dos blogs, cansam-se de acusar os portugueses como avessos ao risco. Palpita-me que, anda muita gente enganada por aí e não é só por chegar tarde a casa, não.

Recentemente, admirava-se alguém da Catalunha, que o documento de identidade do pessoal da Universidade de Barcelona pudesse ser ao mesmo tempo um cartão vinculado a uma importante entidade financeira catalã. Vai daí, pus a mão à carteira e saquei o meu cartão pessoal da Universidade de Aveiro. Querem adivinhar que o meu cartão possui o símbolo da CGD, tem o meu número de funcionário e está assinado pelo vice-reitor Assunção??? Tal como diz o meu amigo catalão: O sector privado não se pergunta que pode fazer pela universidade pública, mas sim o que pode dela sacar. Nota: o autor nunca acreditou que a CGD fizesse parte do sector público; que o diga Santos Ferreira, Armando Vara & outros muchachos.

Como produtor (livros, música, filmes, disciplinas, cursos,…) fui desafiado por uma multinacional portuguesa – não são muitas, mas algumas há, por aí – para estudar uma proposta Sim ou Não a uma Universidade Empresa. O administrador e dono do desafio já tinha visto alguns números de circo desempenhados por mim e passa-lhe pela cabeça, que eu consigo dizer, descodificadamente, o que muita gente vende à palavra e em Euros. OJO! Que já fiz o preço.

Como os meus leitores são mais ou menos 1/3 dos da minha amiga Regina, posso sem grande perigo, ir deslindando a meia dúzia de linhas ou conjecturas ou ainda lucubrações, que põe a nu este problema. Sem pôr em perigo a (minha) factura.
Universidade-Empresa? Mas então, se as funções básicas das IES, que são a docência e a investigação, também passam por um processo mercantilista, que mal tem, uma multinacional, mais a mais dirigida por filhos do povo, pôr à disposição dos seus operários, encarregados, capatazes, uma Universidade? Politécnico não, que aquilo anda mal cotado na Bolsa.
Calma! Uma universidade da empresa não faz mais nem menos do que faz uma universidade pública. Trata-se de oferecer ao seu pessoal apenas aquilo que o mercado procura. O mercado não quer filósofos? Então a universidade pública também não. Já agora, porque é que a universidade-empresa vai perder tempo com filósofos? Claro, claro que está fora de causa, contratar ou renovar contratos com gente que nada mais sabe senão ensinar filosofia ou investigar a actualidade das ideias de Kant. Afinal, ambos estamos de acordo, quer os públicos, quer os semi-públicos. Os privados não contam.
Importante é reconhecer a quantidade significativa dos jovens que aparecem dia a dia - nas escolas de gestão – a entupir formulários e inscrições, em disciplinas e cursos aparentados com a Galp, com a Opep, com a Eficiência Energética, Martifer and so on, and so on. Para esses sim. Temos bolsas oferecidas por Amorins, Azevedos, Violas, Pires de Lima & outros músicos; eventualmente também poderão aparecer candidatos alternativos a fornecedores de bolsas, por exemplo, Manuel Pinho, Mário Lino & outros muchachos.

Confesso, estou hesitante. Olho para qualquer Universidade importante, seja Porto-Gaia por acaso, tantos, tantos são, tamanha é a quantidade de grupos de investigação, institutos, observatorios, centros disto e daquilo e ainda, outras instancias para o conhecimento e os projectos de investigação pura, que, se alguém mais distraído apenas observa a brilhante superficie, fica siderado, impressionado. Que grande Universidade nós temos! Diz o meu cliente (o tal que quer ter uma universidade na empresa), que não existe evidencia de que a quantidade seja sinónimo de qualidade. Oh! Doutor: -Tudo vai do peso representativo da avaliação das universidades públicas: quanto pesam os artigos em publicações daquelas de forte impacto, quantas horas de aula estiveram disponíveis (mesmo que tenha sido às moscas), quantas vezes os nossos docentes foram ao estrangeiro, quantos ECTs de gestão, etc. & coisa e tal. É isso Doutor, é só isso!

Nesta hora de abrir a alma (o corpo de nada vale) assalta-me a maldita da dúvida metódica:
Se a Universidade-Pública que tanto publica e ninguém lê, se tem uma administração de trampa, se por ali ninguém pensa nem reflecte, nem questiona sobre o que faz, o que devia fazer, e passa a vida a trautear sobre competitividade e excelência, se aquilo em rigor não conta para o preço dos combustíveis, porque diabo é que vamos estragar a empresa e levar coisas destas para lá?
Maus exemplos? Cruzes canhoto! Te arrenego Belzebú. Vá de retro Tinhoso.

1 comentário:

Regina Nabais disse...

Alexandre, só uma pequena dúvida...
Diz-me o meu lumbago, entendido em especulação financeira, que talvez o seu cliente precise de ser prevenido de que as maiores fortunas circulantes, nos mercados nacional e internacional, fazem-se justamente comprando acções de baixa cotação facial, e elevado valor potencial, para depois se venderem em alta, nos mercados de futuros; isto, mesmo que os valores intrínsecos, para o utilizador, sejam os mesmíssimos.
Veja, por exemplo, um caso análogo do petróleo...
Abraço,