domingo, 18 de maio de 2008

Professors as producers (II)


Provavelmente, não somos um povo trabalhador tanto quanto apregoamos. Pese embora, a enorme fatia de importância que o nosso adorado PM dá às questões do trabalho, ou melhor às questões do código do trabalho, ou ainda às críticas que os seus opositores fazem à pouca-vergonha que é no nosso país o respeito por quem trabalha.
Vamos a uma declaração de interesses?
Sim!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Sou fruto de gerações de gente que sempre trabalhou. Habituei-me e fui criado a ouvir dizer e contar coisas sobre a vergonha que era, ser preguiçoso, calão, mandrião e outros epítetos que estou impedido de repetir. Ainda não sonhava sequer envolver-me em tretas de ensino & aprendizagem e já discutia com gente da HP (Hewlett-Packard) os benefícios – dos quais duvidava – de vir passar seis meses de férias (desculpem se me enganei) a uma qualquer engrenagem de um projecto, a levar a efeito na UCLA.
Dizia-me o meu amigo Reed que a HP era conhecida pela habilidade com que transferia tecnologia dos Labs para o Business. Para isso, teria de ter sempre gente a circular pelos Labs, fosse em LA como em San Diego ou mesmo em Frisco.
Não me recordo de nenhum nome, famoso ou nem por isso, que viesse com a outra camisola passar uns tempos à HP. Tive amigos em Berkeley, nos mais antigos Campus da Califórnia, mas eram sobretudo amigos giros da sociologia e da política embrenhados numa fantástica promoção de Karl Marx que, para mim bacoco das berças, era quase ininteligível. Havia no entanto uma frase batida que ressoava naqueles infindáveis fins-de-semana, e essa palavra repetida até à exaustão era: WORK!

Na margem direita do Co-Labor, existe uma lista de links para blogs de gente que conheço e outra nem tanto. Está fora de causa que esses links funcionem para mecanismos de auto-promoção. Tenho orgulho em dizer que sei como se faz, mostrei já aos meus alunos via blog da disciplina e através de um projecto de demonstração, como se viabiliza a promoção de um blog, evidenciando o crescendo das estatísticas mediante meia dúzia de técnicas realmente eficazes. Não é essa a função dos links em relevo no Co-Labor. Fundamentalmente, estão ali porque representam outras comunidades que me interessa estudar. Três desses blogs são 'JONASNUTS', 'LUGARES COMUNS', 'do Fundo da Comunicação'. Muitos dos seus textos, comentários e bitaites são acerca de quem Trabalha e de como se Trabalha; ou seja, para aqueles extraterrestres, trabalhar ou não trabalhar é uma questão que conta. Debruçam-se sobre outras janelas que não a nossa, digamos que a nossa janela nem as tabuinhas da Mariquinhas fariam atrair a atenção de quem está fora do nosso círculo de giz. Somos todos famosos, publicamos nos melhores jornais e revistas científicas, somos citados por milhares de pessoas à roda do globo, mas somos demasiado minoritários. O nosso cluster elitista não dá nem para mandar cantar um cego. Reveja-se a quantidade de gente que dá o corpo ao manifesto nas múltiplas entidades da educação superior e não ganha nem um chavo. Não é problema de recibo verde, nem de que este passe a azul e branco, é de falta de respeito pelo Trabalho! Para os «donos» da nossa actividade, esta gente não trabalha. E mesmo que alguns deles trabalhem, o trabalho deles não vale nada. É assim que são vistos os docentes – doutorados ou não – os decentes não docentes idem, aspas, aspas. O trabalho desta malta não tem qualquer dignidade reconhecida ou por reconhecer.
Trouxe a esta página os três blogs citados, porque qualquer um deles me permite ver fragmentos do meu país por óculos diferentes. Foi a partir de um deles que se fez luz na minha cabeça e que me deu incentivo bastante para lucubrar sobre a perda de valor do Trabalho. Os que reflectiram sobre esse tópico não fizeram senão trazer uma constatação mais para a superfície. A outra força oculta, mas igualmente confluente e magnetizante foi a necessidade de manejo do meu currículo, a pedido de um amigo de Bruxelas que quer à viva força que eu vá até lá fazer uma perninha de valsa ou mesmo um passo de samba.
Diz o meu amigo (sobre o que deve ser o meu currículo), traduzido, filtrado e já passado por rolo compressor a preceito:
● Enunciar apenas o número total de trabalhos publicados por grandes áreas científicas «mais tarde se fará prova»
● Dar relevo ao trabalho e projectos em cooperação ou envolvimento total com grandes empresas
● Elaborar um draft do que deve ser um plano de cooperação internacional com institutos de educação superior europeus, tendo em vista o desenvolvimento futuro de um programa internacional para um “master of industrial management”.
● Óbvio, referência obrigatória das habilitações, etc.etc.etc.

Deixe-se de lado o que cada um de nós está habituado a fazer, tal qual o costuma fazer, ambiente no qual se sente bem e coisa e tal.
Andamos todos a falar de excelências, de novos modos de comando das IES, da adaptação ou mesmo alteração completa tendo em vista um determinado modelo de praticar a nossa profissão, alinhemos o nosso discurso por toda aquela cenografia mentirosa a que se assistiu em Aveiro um dia destes mais atrás… e que nos fica para ir por essa Europa fora à procura do prejuízo?
Os estudantes estão-se marimbando para aquilo que se passa na sala de aula. A maioria deles é «diplomado» em estudar e preparar o modo eficiente de fazer a disciplina, mais nada. Em que actividades de investigação é que os estudantes participam?
Em que projectos aparentados com a profissão versus graduação é que os estudantes põem as mãos?
Que (?!) querem de nós os directores de curso, os directores de departamento, os reitores/presidentes, senão umas aulitas sem faltas, um discreto cumprimento no corredor, um votico na urna de quando em quando, umas citaçõezitas no jornal famoso ali de Londres, melhor ainda se for de Boston, e por aí, por aí.
As IES vivem muito (demasiado) preocupadas em ter a sua casinha arrumada, com os tarecos todos no seu sítio, com os professores todos muito respeitadinhos.
Então e que tal se fosse tempo de olhar lá para fora? Sim, lá p'ra fora, para a rua, para a fábrica, p'ra bomba da gasolina.
Já alguém se deu conta que sentar um professor, por mais borlas e capelos que tenha, no meio de uma «selva» com umas centenas de fatos macacos a rabiar por todo o lado, isso não o inibe de chegar a casa a cheirar a limalha de ferro?

E que pelo facto do «herói» ser professor isso acrescenta népia ao respeito e admiração que o resto da maralha venha a atribuir ao nosso colega, amigo e camarada?

Quanto mais leio os reports de tudo quanto tem vindo a ser encontro de Higher Education mais me convenço que andam maioritariamente a dizer que mexem, mexem, para que tudo fique na mesma.
Mas, que anda muita gente inquieta, lá isso anda!

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