quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Problemas da ontologia



Disse RS: «os meus compêndios de filosofia afirmavam que a ontologia consistia num conhecimento que abrangia a organização e a natureza do próprio ser humano, assim sendo quando se fala de ontologia em blogues fala-se de uma partilha de conceitos cognitivos específicos porque cada ser humano é único nessa partilha, mas como é feita globalmente, a nível de redes inter-blogosfera terá forçosamente de assumir um papel de interoperacionalidade....se o blogue não apresenta explicitamente a sua ontologia, que lhe é própria, certamente poderá correr o risco de não conseguir passar a mensagem para o outro, de modo que essa interoperacionalidade é posta em causa....por outro lado, se a ontologia muda frequentemente devido à dinâmica, a mensagem pode também ser posta em causa …»

Diz AS:

My personal and professional life has been a mess

Se eu exprimir esta declaração à cabeça de um blogue, a maioria das mensagens que são aí divulgadas, ficam sujeitas a esta pré categorização. É como se fosse um filtro enviesador que colocasse uma determinada cor em cima do meu blogue. Eu posso assumir o papel de mistificador, fingidor, mentiroso, eufemísticamente pode dizer-se que uso e abuso de heterónimos. Sofisticadamente, visto e dispo várias camisolas, dando mostras de um carácter que vai varrendo o espectro que me convém.

Quando VM sugeriu que fosse colocado em exposição um ou outro exemplo, eu fui apanhado em falta, tal qual os miúdos são apanhados com a boca no frasco da geleia ou da marmelada. É que, os meus casos de laboratório são os do domínio mais ou menos visível e que nós pomposamente cercamos de arame, dizendo que pertencem ao domínio da educação superior. Alguns de nós, têm outros espaços de comunicação em que os objectos não são tão específicos e centrados na educação superior. Confesso que resisto heroicamente a ir pr’a espreita, mesmo sabendo que isso acontece, a dispersão nunca ajudou quem estuda. Óbvio, estou a trabalhar num esquisso que seja capaz de traduzir a ideia inicial, mas parece-me de bem senso (não me enganei, disse mesmo bem senso), discutir um pouco estas análises com a miudagem e só depois mostrar umas piruetas na praça pública.

Entretanto, tal qual fez RS, ajuda q.b. se outros curiosos e provocadores afirmarem e/ou perguntarem coisas, até porque interessa manter o VM agarrado ao assunto (whoao!).


O que eu penso como ponto de partida é que estão a aparecer formas muito mais orgânicas de arrumar a informação em vez daquilo que os nossos esquemas actuais de categorização nos permitem, com base em duas unidades -- o ‘link’, que pode apontar para qualquer coisa, e o ‘Tag’, que é uma maneira de unir etiquetas às ligações. A estratégia de etiquetar – formulário em roda-livre que põe e dispõe etiqueta, sem consideração aos constrangimentos da categorização -- parece uma boa receita para que as coisas corram mal, mas tal qual a WEB nos vem mostrando, podemos extrair uma quantidade surpreendente de valor de grandes séries de dados desordenados e confusos.

Domínio da Ontologia:

■ Educação superior

■ Estratégia da educação superior

■ Governação da educação superior

Relações

■ é

■ parte_de

■ desenvolvido_a_partir_de

Parte_de

■ não_necessariamente

■ necessariamente_é_parte

■ necessariamente_tem_parte

■ necessariamente_é_parte& necessariamente_tem_parte

Classes:

termos, tipos, espécies, universais

Instancias:

anotações sobre atributos do blogue,

fichas, indivíduos, particularidades

Questão: O que é Ontologia?

-Depende do significado de “é”

Comecemos por variações em ré menor e em torno de algumas definições:

Temos aqui uma boa ironia se observarmos que a palavra “ontologia”, que tem a seu cargo tornar tudo muito claro e explicitar enunciados num domínio particular, tenha assim tantas e conflituosas definições. Procurando, procurando, pelo menos encontramos duas:

A linha principal da ontologia no sentido filosófico é o estudo das entidades e das suas relações. A questão colocada pela ontologia é: Que tipos de coisas existem ou podem existir no mundo, e que relações podem aquelas coisas ter umas com as outras? Ontologia é menos «o que é» e mais «o que é possível».
As comunidades ‘Artificial Intelligence’ e ‘Knowledge Management’ têm a sua definição – examinaram a palavra “ontologia” e aplicaram-na directamente ao seu problema. Para essas comunidades, o sentido de ontologia é algo como “uma especificação explícita de uma conceptualização.”

A linha comum entre as duas definições é traçada pela essência. Num domínio particular, que espécie de coisas podemos nós dizer que existem nesse domínio, e como podemos nós dizer: aquelas coisas relacionam-se umas com as outras?

O outro par de termos que eu preciso definir é categorização e classificação. São o acto de organizar uma colecção de entidades, sejam coisas ou conceitos, em grupos relacionados entre si. Embora hajam algumas distinções ‘f
ield-by-field’, os termos usados maioritariamente são permutáveis.

Depois, há a classificação ou categorização ontológica, através da qual organizamos um conjunto de entidades em grupos, com base nas suas essências e relações possíveis. Um catálogo da biblioteca, por exemplo, supõe que para todo o livro novo, existe já o seu lugar lógico dentro do sistema, mesmo antes que o livro esteja publicado. Esta estratégia de projectar categorias para cobrir casos possíveis é avançada inicialmente e é aquilo que me preocupa, primeiro porque é extensamente mal aplicada e depois porque tem sido sobrevalorizada nas ciências da computação.

Agora, qualquer um que encara a categorização como modo de vida dirá que nunca teremos um sistema perfeito.

No trabalho cujo objecto é sistemas de classificação, o sucesso não está em “conseguiremos o arranjo ideal?” mas sim “quão próximo nós chegamos, e em que medida?” A ideia de um esquema perfeito é simplesmente uma ideal Platónico. Entretanto, eu quero aqui deixar a minha tese segundo a qual «a procura do ideal ontológico é um erro». Mesmo usando a perfeição teórica como uma medida do sucesso prático, teremos sempre uma má aplicação dos recursos.

Apesar de tudo isto, óbvio, continuo o meu trabalho sobre a ontologia e blogues, blogues e ontologia. Ainda agora é de manhã!

5 comentários:

LN disse...

Da filosofia - e do conhecimento do Ser - às ontologias web, aos agrupamentos thesaurus :)

Assim, distante da disciplina filosófica, estudar ontologias torna-se no definir categorias para as coisas, de um mesmo domínio.

Em computação e inteligência artificial é mais ôntico do que ontológico... todavia, estou se calha ra recusar a apropriação da mesma palavra para ums entido tão diverso...

Virgílio A. P. Machado disse...

Claro que não tenho perdido pitada. Agora, quando se lê, no CO-LABOR, sobre «Problemas de Ontologia», aparece lá, a certa altura, um PENIS.
E depois?! Sou eu que tenho a culpa???

Alexandre Sousa disse...

Bom dia;
Vamos então conversar um pouco, porque a manhã está esplêndida nesta serra e neste sítio a 712 m de altitude. As estrelas semeiam o céu com uma nitidez que dá sentido autêntico ao acto de caminhar na vertical. Digo isto, porque já dei uma volta com os cães ao bater das cinco badaladas, já comi a bucha da manhã e este tipo de introdução diz bastante do meu estado de espírito ou seja, pronto para a procura dos entendimentos.
Acho que qualquer um de nós imagina o bem bom que é poder dizer sem preocupação de estilo ou de convencimento o que lhe passa pela tola.
Quase sempre, falar de nós não é propriamente inocente nem cai do céu, e se outro motivo não for encontrado, no mínimo, estamos no revolto de um qualquer diálogo intimista já que não reconheço ao monólogo o direito à vida. Mas o pensamento é esta rede emaranhada que nem sempre se gosta de estender.
Então lá vai… nos 80s programava em linguagem Prolog e sonhava com grandes triunfos no campo do Machine Learning, nos 90s programava em C++ e construía algoritmos para Redes Neuronais. Nos 00s os meus programas são escritos em palavras que procuro sejam simples. De classe em classe fui ficando na disciplina que grosso modo se chama ciência cognitiva. Não porque precise de clube, tenho aquela secreta vaidade dos futebolismos parolos e fui por aí etiquetado aos 5 anos de idade. A ciência cognitiva é um estudo interdisciplinar ‘ongoing’ que olha para a mente e para a inteligência, abraça a filosofia, psicologia, linguística, antropologia, inteligência artificial e neurociências, para já. O que eu gosto mais neste colinho é a fuga ao dogmatismo e o tomar café com pessoas que até gostam mais de chá. Creia que estou a conversar com a maior das seriedades!
Por grande azar (no sentido mais vulgar de sorte) tenho podido andar de departamento em departamento a vender prospectos assim à moda do time-sharing e como me vão deixando anunciar propostas que os estudantes do fecho deste ou daquele curso acham interessantes, outras vezes curiosas, às vezes bizarras, isso permite-me saltar de nó em nó. É que nunca consegui esconder uma certa dúvida sobre os problemas da continuidade. Muito escondida cá dentro de mim existe a secreta esperança de que isto tudo seja feito de momentos discretos, ou se quiser, ligados ao isolamento, à separabilidade dos objectos e dos fenómenos, à possibilidade de os fixar por meio de símbolos numa compreensão individual e colectiva. Depois, a razão tem estas incógnitas que não me atrai tentar explicar, e dou por mim quase sempre metido até aos cabelos (num fluxo de baixo para cima) em trabalhos de continuidade, de pontes e calçadas, de construção à moda de Sísifo de redes complexas de fluxos de acção que devem ser sempre considerados fluxos de informação no sentido mais lato da palavra.
A conversa já vai longa. Fechemos por aqui: a minha camisola é a dos que ganham a vida a trazer o pensamento para perto das máquinas, já que perdi o comboio dos meus amigos que ficaram a ganhar a vida trazendo as máquinas para junto do pensamento.
Continuaremos….

Alexandre Sousa disse...

Comentário com endereço específico: VM

Então compadre, um homem que se preze traz consigo toda a ferramenta seja intelectual seja física para qualquer lado para onde vá. Já foi assim no caminho marítimo para a Índia...

Rosa Silvestre disse...

Olá Alex, observo que o meu comentário e de outros gerou mais um post interessante e que isto de se falar em ontologia e blogs tem que se lhe diga, dependendo de muitos factores. Ultimamente tem-se debatido por tudo quanto é sítio webriano o facto da utilização dos mundos virtuais como ferramentas sociais no ensino e ciência(leccionar aulas, realizar conferências e reuniões, exposições virtuais, ....), sendo notável a possibilidade de integrar todos estes recursos pela navegação numa rede de mundos virtuais comunicantes, onde os diferentes intervenientes interagem entre si. Ontologicamente falando deste navegar (navegar é preciso, viver não é preciso, já referia Fernando Pessoa)será que ficaremos pelo navegar é preciso, no qual o homem (não esquecendo a mulher...of course) na "alta" navegação não distinguir a realidade da virtualidade?(risos de preocupação, facto que actualmente já observo com muitos jovens).