quarta-feira, 17 de outubro de 2007

A minha vida de pernas para o ar E procurar, uma casa Para eu morar…




Há sempre uma grande hesitação quando decidimos pôr ordem no rés-do-chão da nossa bela casinha, tão modesta quanto eu. Por isso avançamos tanta vez aos ziguezague, escondendo isto atrás da cómoda ou do psiché, mudando a cama da janela para a porta, mudando sempre mudando e deixando tudo na mesma.
Qualquer um de nós, que se reclama do «corpo de intervenção» da educação superior sabe por intuição, por inferência, pelo odor que se sente no ar, mas sobretudo por experiência e por levar muita porrada no corpo e ainda mais na mente, que «isto» não anda bem. Hesitamos, quando colocamos no prato da balança a escola autónoma, gerida utopicamente pela comunidade, mas na verdade sempre entregue a quem dá mais.
Rabeamos, quando alguém diz que a sobrevivência está do lado da «futura aliança» público-privada como virá a ser o modelo do Instituto Superior Técnico.
Exultamos, quando alguém diz que agora sim, agora é que vai ser com o BA e a sua Escola de Gestão. Ignoramos Modernas, Independentes, mais o que por aí se movimenta, devagar, devagarinho.
Passado todo este geladíssimo carnaval, temos um processo Bolognese que na maioria dos casos não é mais do que um farsíssimo faz de conta.
Temos alunos aos montes, e uma coisa fantástica que são kilos de cursos sem alunos.
Ainda, temos resmas de horas de aula preenchidas com meia dúzia de abúlicos assistentes.
Temos escolas de culto com mil e quinhentos docentes e assembleias para debater problemas cruciais em que estão presentes 50 pessoas. Vou escrever o ‘numbaro’ para que o possamos olhar olhos nos olhos: 50/1500 = 3,33%
Como o processo é visto e categorizado em «agitação e subversão» quanto maior o valor alcançado na escala sigma, melhor. Quando se tem um processo ‘six sigma’, não se espera obter mais do que 3,4 produtos defeituosos por milhão de unidades produzidas.
Dirá o (mau) Governo da Escola que está a produzir muitos produtos (docentes) defeituosos. Mas não, todos estão prazenteiramente ociosos porque o mar está de calmaria. Direi eu, imitando o Bruxo de Fafe, que antes da borrasca estará tudo de bonança.
Façamos como o meu tio Sereno quando fabricava lixívia na casa de banho do bairro, toma nota que eu dito:

1) Resolver o modo de governo da escola;
2) Arranjar outra gente para governar a escola;
3) Reinventar o(s) processo(s) de Bologna;
4) Entusiasmar os estudantes para que acreditem naquilo que nós (não) acreditamos.

Feita que está a lista e seguindo procedimentos escritos pelo meu tio Sereno, já tratei de afixar a lista na parede, bem junto ao largo da entrada. Sei que ninguém vai ler, todos têm isto bem gravado na cabeça. Não farei fotocópias porque não trabalho no Sindicato dos Professores, não pintarei paredes nem irei pendurar panos na perpendicular ao eixo da rua.

Vou ler calmamente, um
documento interessante PDF feito por uns «tios» que tal como eu, já não acreditam muito que isto vá lá connosco. Por isso, viram-se para as máquinas. Essas, aguentam um ‘xuto’ bem dado; é que isto está bom é para dar e levar uns ‘xutos’.

3 comentários:

Virgílio A. P. Machado disse...

Os «blogs» são todos iguais, mas uns são mais iguais do que outros. Com as entradas («posts») é a mesma coisa. Há as que se lêem e ficam percebidas, as que dão que pensar e as que se têm que decifrar, descodificar, ler nas entrelinhas, enfim uma enorme trabalheira.

Aqui temos um desses últimos casos, como acontece com bastante frequência neste «blog» e no seu antecessor com o mesmo nome, mas morada diferente. É isso mesmo, os «blogs» têm que ter «casa» onde possam morar e na blogosfera também não há casas perfeitas, nem todas têm as mesmas qualidades. Os mais modestos, escolhem uma casa. Os mais dispersos vão abrindo novas moradas por tudo quanto é lado. Em cada uma desenvolvem, principalmente, uma das suas actividades e é no conjunto que se retrata o todo. Quem visita uma dessas moradas conhece uma faceta, muitas vezes com total desconhecimento de todas as outras. No mundo virtual, como no mundo real. Conhecer alguém no âmbito da sua actividade profissional, por exemplo, não é o mesmo que ter um conhecimento pessoal e vice-versa. Conhecer a profissão é uma coisa, conhecer os passatempos favoritos pode ser outra, bem diferente.

A busca da morada certa, para o campo, a cidade e/ou a praia leva a soluções muito diversas. Vou ter mais uma casa. Já decidi onde vai ser e escolhi os primeiros móveis. Falta-me adquirir a casa e arrumar lá a mobília. Quando estiver habitável, convido todos para uma visita e voltarem sempre, para um convívio que desejo animado e enriquecedor. Espero que o Bruxo de Fafe, o tio Sereno e até o Sindicato apareçam, mas quem não dispenso são os vizinhos com as suas máquinas e habilidades desportivas.

Alexandre Sousa disse...

Grande Virgílio.

Qualquer um de ambos os dois se desenrasca bem com as metáforas.
Umas, são mais curtas, como no caso das imagens - mais difíceis de decifrar - outras, mais longas, como estas entradas, às vezes, são mais em jeito de javali do que peitinho de tamboril.

Um abraço

Rosa Silvestre disse...

Alexandre, isto de procurar casa tem que se lhe diga...e cada vez mais a casa parece mais pequena e com elementos intrusivos à mistura, de tal ordem que daí ao acampamento vai um pequeno passo.O fazer alianças por isto e por aquilo pode ser razão para uma maior intromissão em assuntos que somente a nos poderiam dizer alguma coisa, quanto se metem colheres em prato alheio, habitualmente alguém fica sem alimentação, mas como vivemos num "pais do faz de conta", o melhor é seguir os ensinamentos do tio Sereno, acho que ele é que sabia viver, ou não fossem os tios (não esquecendo as tias, exceptuando as de Cascais) experientes....na vida.
Um abraço.