domingo, 7 de outubro de 2007

Empregabilidade é um conceito que preocupa quem?




Os vocábulos portugueses beneficiaram de melhorias e incrementaram o seu número desde que passamos a ser um Estado-Membro (U.E.). Esta coisa de ser a 15, depois a 25, agora a 27, enquanto esperamos pela Rússia, tem trazido mudanças notáveis, nomeadamente na fraseologia política. Um dos termos que tem vindo a ser repetidamente utilizado pelos «maus políticos», mas também pelos jotinhas que esperam, irrequietos, pela sua vez, é esta etiqueta da empregabilidade. O camarada Zé Mariano já fez da empregabilidade um dos fulcros para justificar a criação da nossa querida Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, a tal que nunca sabemos ao certo se está a banhos se em banho-maria está.
Gosto de lhe chamar conceito, desse modo fujo ao enquadramento rígido da moda que vai mais no sentido da Flexigurança, que vultos mais cerebrais como Sanches (S.) ou Silva (V.) esmiúçam e esquadrafapam para que ninguém mais, lá consiga entrar.
Fiquemos com o conceito, até porque recentemente, conseguimos dez minutos do tempo de Felder & Brent para partir uns blocos de cimento à volta disto. Um dos pormenores que me chamou a atenção durante a troca de impressões com F&B foi o facto dos norte-americanos elaborarem programas (cursos/disciplinas) com estrita preocupação de cumprir critérios negociados ou partilhados com grandes organizações profissionais – engenharias, p.ex. –; também a Alemanha, que permite o exercício da engenharia (salvo excepções legisladas) a quem não é diplomado ou graduado, mantém uma actividade assinalável por parte das organizações patronais que se interessam pelos processos de acreditação/certificação (também a França, Irlanda, Lituânia, Finlândia), para além da Grã-Bretanha que, como sempre, gosta de processos mais insulares.

Temos seguido as declarações de gente bem intencionada, em especial jovens que fazem carreira nas equipas juvenis dos partidos que têm governado Portugal; essas palestras, curtas, repetitivas, à moda de «palavras de ordem» confundem claramente a empregabilidade promovida pelas instituições da educação superior com o conhecidíssimo «preciso de um emprego». A conversão deste slogan, na sua apropriação por parte do individuo está sujeito às célebres leis do mercado ou factores exteriores à escola, tais como as práticas das empresas e departamentos de RHs e o nível de optimismo pelo qual passa a economia das nações.
Agora que Universidades e Politécnicos se afadigam num prolongar de prazos para cozinhar os seus Conselhos Gerais e causar o mínimo de danos colaterais às equipas actuais que governam por dentro a educação superior, interessa aos ‘outsiders’ como nós, que nunca governamos coisa nenhuma, olhar com algum distanciamento não neutro, conceitos como este da empregabilidade que não preocupam minimamente, reitores, presidentes, directores e outras nomenklaturas.

Há algumas notas suscitadas pelo senso que interessa trazer para a mesa do debate ausente, entre as quais seleccionamos esta que nos parece crítica: “A empregabilidade evidenciada pela U.A. não deve ser medida ou comparada com indicadores convencionais da economia.”
Existem propostas em análise quer na Alemanha, quer no U.K., para concepção e desenvolvimento de indicadores susceptíveis de traduzir o andamento e melhoria das instituições E.S. no que diz respeito a este conceito, concentrando a atenção em 3 aspectos:
● Desenvolver os atributos da empregabilidade;
● Desenvolver habilidade, técnica, perícia, conhecimento para lidar com a construção da carreira profissional e linhas de auto-promoção;
● Apostar no incremento da voluntariedade face à aprendizagem e num crescendo da reflexão sobre essa mesma aprendizagem.

Empregabilidade tem a ver com a preparação do ‘como’ os indivíduos lidam com as oportunidades, reflectindo e articulando as respectivas habilidades, aptidões, conhecimentos, práticas e experiências.

Já disse por aqui que de quando em quando me divirto a ajudar a Magui numas cenas de RHs. Há coisas que se reconhecem à vista desarmada e que não são transparentes nem para os jovens graduados nem para os betinhos que os pseudo-preparam. Os graduados mais grisalhos estão em desvantagem na porta de entrada para arranjar emprego face aos mais novos e todo o substrato socioeconómico, educacional, fatos do Armani ou fragrâncias Gianni Versace contam como o diabo e parecem influenciar as decisões sobre recrutamento.
Outros trabalhos que por aí circulam em papel, sugerem que o nível do salário pode ser afectado pelo status a que cheira o candidato e «de facto» não é a mesma coisa dizer que se é engenheiro de telecomunicações feito pelo IST ou pela UTAD. Que me perdoem os colegas da UTAD mas sempre imaginei que aquilo seria a contrapartida académica do Vinho do Porto.
O odor transpirado pelo ‘background’ sub-repticiamente deixado pelo candidato ao cirandar pelas instalações do Depart.º RH ou da multinacional que vai proceder à selecção também conta e não é pouco.
Há mesmo, muito trabalho (e pouco emprego) para levar a cabo esta coisa de pôr juntos, professores e empregadores no concertar do desenho da empregabilidade que se quer no território nacional.
Pela aragem, nem Zé Mariano, nem Vieira da Silva nem Francisco Van-Zeller parecem preocupados.
Como diz o português de «baixa» classe: Que se lixe! É a vida.

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