sexta-feira, 2 de maio de 2008

Em defesa de coisas em que acreditamos e que praticamos


Há um carola cuja graduação é filosofia e a prática é dirigir pessoas a fazer coisas, não importa muito bem o quê, já o vi nas artes gráficas, já estive com ele nas multinacionais que fabricam assentos e estofos para a indústria automóvel, encontrei-o mais tarde a fabricar janelas e agora estou com ele (às vezes) na construção metálica.
Sempre que estou com ele, a maior da parte das vezes, ouvindo as suas dissertações em voz alta, não consigo nunca esquecer-me que a sua formação de base é Platão, Kant, Nitzche e por aí fora. 11 em cada 10 vezes o nosso motivo de debate e de trabalho é encontrar meios e formas de levar grupos de pessoas a fazer coisas!
A personagem tem nome: Luís, anda pelo meio século de vida e quem o quiser ver feliz é apontar-lhe mais um desafio, outra coisa nova para fazer.

Nesta coisa nova, onde encontrei motivos para acender chamas no querer do Luís, existem três pólos de produção: Viana do Castelo, Maia e Amarante. No meio do maralhal que vive a sua vida entre ferro, aço, alumínio e outros metais, circulam a olho nu, aí uns trinta e tal engenheiros, do qual mais de um terço são mulheres. Chegam de escolas múltiplas, desde o «design» até à «mecânica», passando pela «metalurgia».
Quando cá chegam, salvo excepções que confirmam a regra, nenhum destes «macacos» é engenheiro.
Nesta empresa, caso raro no panorama nacional, o ser engenheiro não faz parte do nome das pessoas: chama-se pela Andreia, pelo Gregório, Ana, Pedro, and so on…
O grande «patrão» do chão da fábrica é o António Castanheira, tal qual ele me diz:
- Se preciso de um ângulo mais complicado, olho para todos os lados à procura de um engenheiro.
Ou seja, mesmo os «duros» da metalomecânica sabem distinguir à vista desarmada, o que é um engenheiro de um qualquer outro chaço de ferro.

Entre desvairadas coisas que tenho por aqui entre mãos e neurónios, está a camisola do papel de mentor e tutor de um jovem estagiário, pago pelo IEFP (900 €/mês) ao longo de 12 meses, a quem já me afeiçoei, chegadinho cheio de teias de aranha nos olhos, com um papel e selo branco a atestar que ele, António Abreu, é licenciado em engenharia mecânica. Diz bem o papel, ele só é licenciado ou graduado; tal qual o vocabulário do Bologna Process. Não é engenheiro! Engenheiro vou fazê-lo eu, mais o Luís, mais o Quim, sobretudo o outro António, dono e senhor do chão da fábrica.

Caiu do céu, aquela declaração do Zé Mariano anunciando aos ventos e marés, a possibilidade de formatar um curso, bacharelato ou mestrado, conforme nós o vamos congeminar. É que o António Abreu vai ter de ir outra vez à escola, a espaços, aprender coisas que nós precisamos que ele saiba bastante melhor do que a ideia parda que ele neste momento nos transmite. Mas, há sempre uma dúvida que resta…

Será que, quem manda na escola, no curso, na disciplina, está pronto para nos ouvir?

2 comentários:

Anónimo disse...

Essencial esta leitura, caro AS.

DK disse...

Excelente. Não poderia estar mais de acordo - e partilho igualmente da sua justificada dúvida...