Mundo real «vale-de-lágrimas»
Extraído do BLOG http://gliceria.blogspot.com/2008/02/o-mundo-real.html deixo aqui a caricatura social de um problema que pode e deve ser visto de perspectivas diversas. A imagem está comentada: “Realidades vividas, não esperadas e jamais merecidas.”
Esta caricatura deixa-me pelo menos duas reflexões contraditórias, até porque já me senti retratado no mínimo umas quatro vezes.
A primeira reflexão tem a ver com aquela interrogação que nunca fiz, por sentir que é uma auto-flagelação: - Será que um Doutorado, só pelo estatuto, tem direito a uma tensa?
A segunda reflexão leva-nos ao cume do Everest, esse mesmo o dos Himalaias; que futuro para um homem ou para uma mulher, tenha nascido em Noyasibirsk, Barrancos ou em Nzete?
Ontem mesmo, circulava na A41 e ouvia o correspondente da RDP-Antena Um dar notícia que 60% dos trabalhadores do Call Center de Bragança eram licenciados em qualquer coisa, desde «tradução de francês e inglês» até «biologia tecnológica». Aparentemente, nenhuma destas especialidades fazia parte do cardápio anunciador da oferta de emprego que os levou para o exercício servil em que ocupam os seus dias.
Confesso que prestei mais atenção aos desabafos dos jovens frustrados pelo não cumprimento das expectativas com que entraram no portão do Politécnico lá da terra do que propriamente às curvas da estrada. Vieram à minha memória, tempos de esperança passados e vividos na Agência de Inovação, dez anos atrás, em que a Região Norte – essa mesmo, a tal traçada a lápis pelo Valente de Oliveira – se preparava para o ‘grito do Ipiranga’. Por entre o cinza escuro do alcatrão, voltei a ver as toneladas e toneladas de alheiras que exportamos para o Canadá e E.U.A., martelaram-me os ouvidos as reuniões na Aldeia de Romeu onde se discutia vinho, umas vezes do Porto, outras vezes brancos secos concorrentes competitivos de murraças feitas em destilarias italianas, e por aí, por aí…
Agora que os Amorins estão entretenidíssimos com o clap clap do contador de litros da Galp e com as fábricas de rolhas alternativas à velha tampa de cortiça, será que o Politécnico de Bragança já deu uma volta pelas margens do Tua?
Porca miséria!
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