quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Burro velho de regresso


É bom voltar, mesmo que seja de tempos a tempos.
Há, seguramente, mil maneiras de descongelar um burro velho, que se emocionou hoje a olhar o céu da praia das Caxinas.
Tanta coisa para contar, tanta coisa para dizer e apesar de vinte dias (ou isso) nos Montes Urais, breve passagem por Toulouse e uma festança dos Reis Magos em Madrid como já não vivia há 150 anos, regressei hoje a Pedras Rubras, para falar de trabalho e do que podemos fazer por este país e por esta gente, dando de barato que acima de tudo trouxemos uma ideia de voltar a mexer com a geração prateada.
A miudagem que se desembrulhe. Rui Veloso & Carlos Tê que se cuidem, assim fez o Fausto, o Carlos do Carmo, Sérgio Godinho, mais Fernando Tordo que diz à boca de cena: - Agora é que sei alguma coisa.
Virgílio Machado, que muito prezo, disse-me à hora da partida:
- Cuidado! Viajar sempre de AirBus ou de Boeing.
Assim fiz de Oeste para Leste e de Nascente para Poente. Mas de Norte para Sul e de vira-e-volta foi sempre de Antonov. Quando tive de afrontar – 50 graus centígrados foi o Antonov que me descarregou e que apitou os búzios a chamar para o regresso.
Trouxe esta lição dos Montes Urais. Não deitar fora as pessoas com experiência, os que montaram e desmontaram rodas, taparam furos em pneus, rebuscaram no fundo dos bolsos à procura de cotão comestível.
Regressei hoje a reuniões com accionistas do BCP e simultaneamente batedores de palmas e assobiadores da CGD. Fiquei impressionado com a marcha do meu país e do meu povo rumo ao futuro. Soube de pensões de reforma e de aumentos do mesmo dito cotão que nos bolsos se acumula.
Emocionei-me a olhar o céu das Caxinas e a ouvir histórias de soldadores que partem para Espanha a ganhar 15 € por hora, ganhando apenas as horas líquidas e suadas que por lá trocam. Dinheiro negro, é de dinheiro negro que este país vive e é por dinheiro negro que este país suspira. Provavelmente é por dinheiro negro que o BCP desespera e que a CGD almeja.
Não encontrei grande diferença entre o país que deixei o ano passado e o que encontrei este ano. Minto! As gravatas estão mais feias e mais replicadas, triplicadas, roxas, quaresmisticas, muito à moda da semana santa de Sevilha. Os fatos estão feitos quase todos do mesmo tecido e com o mesmo padrão. Cheguei a temer, com franqueza, que tinha regressado ao país dos sovietes. Mas é mentira; do país dos sovietes sou eu que regresso. Com uma vontade louca de encontrar trabalho para quem tem mais de quarenta e cinco anos de existência.

1 comentário:

J. Cadima Ribeiro disse...

Caro Alexandre Sousa,
Permita-me que saude o seu regresso. Sentimos a sua falta.
Que tenha um ano mais colorido do que aquele que encontrou no seu retorno à pátria lusa!
Um abraço,