quarta-feira, 19 de setembro de 2007

(Des)actar o nosso contentamento regulamenteiro


Estivemos hoje no Campus de Gualtar, abrigados do sol inclemente que castigava praxistas e praxados, mais as mães e pais fumegantes que, sentados, observavam as malfeitorias que as suas crias sofriam.

O nosso sacrifício era mais intelectual. Separando neurónios entre tendências optimistas e pessimistas, encontrando forças para empurrar o RJIES no sentido do arranque dos motores para a tomada de consciência do que querem dizer aquelas 32 páginas do doc PDF que está em distribuição pública. Alegremo-nos, pelo menos o texto do RJIES é gratuito e não impresso, enquanto não aparecer no Global, no Destak, no Metro Portugal ou até no ‘Meia-Hora’.

A audiência, não fugiu à regra do «quanto mais importante é melhor não aparecer»; depois logo se verá, até porque o reitor já está a tratar disso & etc.etc.etc.

A mim nada me surpreende, sinto-me bem no meio de minorias, não fui à festa do Dalai Lama, não sou a favor do Scolari, não tenho bandeira no carro porque nunca sei bem em que comunidade autonómica vou acordar amanhã e portanto, aqui estou para dizer de minha justiça, que o almoço frugal, composto por sopa de legítima penca (nos meus sítios chamam-lhe tronchuda…), robalo industrial acompanhado de verdura e batata simpática, mais dois ou três medidas de Alvarinho suave, foram preliminares de luxo, já que isto de ser professor, é de facto, outra loiça.

A contrapartida é esta: ter que relatar para a assistência, Alô, alô moça da favela, aquele abraço (este é pr’a Regina), Alô, alô, seu Chacrinha - velho guerreiro (este é pr’o Virgílio) aquele abraço, Alô, Banda de Ipanema - aquele abraço (este é pr’o MJMatos).

Não se zangue ninguém, o brilho esteve na simplicidade com que José Ferreira Gomes estendeu o puzzle e Cândido Oliveira pôs o dedo em duas ou três campainhas que não têm que ser de alarme, (só que…) não se esqueçam que este país tem séculos e séculos de história, alguma boa, mas também tem carradas de pulhice à espreita de cada esquina.

Perdoar-me-ão mas espero que JCR nos traga mais justiça sobre a visão de Ferreira Gomes; este, enunciou uma opinião de ‘connaisseur’, actor interveniente e activo nestas lides, homem muito lúcido, que se explica linearmente, tendo sido capaz de colocar em cima da mesa os eixos fundamentais segundo os quais se vai orientar o RJIES para bem e em alternativa o RJIES para o mal.

Ferreira Gomes é, como eu, crente nas potencialidades do RJIES, desde que este seja bem apreendido nos seus aspectos de novidade. Não vale a pena nesta fase do campeonato, com o árbitro sempre a apostar na antecipação das jogadas, tentar agora dizer que o problema é 4-2-4 ou 4-3-3. O problema é seleccionar os melhores defesas, os melhores estrategas, os melhores distribuidores e sobretudo os melhores concretizadores.

Pedro Oliveira, outro dos nossos comparsas de mesa e de charla, chamou a atenção para os aspectos pessimistas da Lei. Levantou questões sérias, como a autonomia das escolas, e sobretudo o posicionamento das célebres unidades orgânicas em todo o tabuleiro de jogo. Pedro tem muitas dúvidas. Bate no excesso de regulação, na minudência do pormenor, na rapidez/urgência de que Zé Mariano se serviu para nos deixar a todos com um certo sabor a pouca discussão.

Depois, quer Pedro Oliveira, quer Ferreira Gomes, fazem notar que a concepção, desenvolvimento e o fabrico do Conselho Geral, com a possibilidade de ser composto com base em proporcionalidade listeira, pode trazer lastro a mais a um processo que se gostaria mais célere. Aqui chegado, deixem-me dizer que não sou assim tão pessimista, primeiro porque os reitores fazem parecer que estão, mas na realidade não estão com pressa, depois, porque eu já assisti a várias produções de reitores e tenho uma secreta esperança de ir assistir ao longo da minha espera para a grande viagem, ao fabrico de alguns Conselhos Gerais.

Uma nota breve, para não esgotar a leitura do concorrente “Universidade Alternativa”, seguramente melhor actista do que nós, sobre uma insistência do Cândido e que não me parece despicienda: É melhor não deitarmos fora aquela treta das Universidades Fundacionais, porque aquilo tem regras muito ao gosto de Direito. Diz o Cândido Oliveira: - Cuidado… são artistas portugueses.

Um abraço de gratidão ao JCR por levar ao colo estes chatos e para aqueles 40 e tais serôdios e serôdias que nos estiveram a aturar, óbvio, aquele abraço.

Continuaremos a falar destas coisas até que a voz nos doa.

5 comentários:

Regina Nabais disse...

Venho agradecer a reportagem e retribuir aquele abraço do Alexandre e dar um grande abraço ao Cadima, e Parabéns aos dois e dizer-lhes que estou retida num retiro espiritual, que ainda lhes contarei em pormenores, porque se não teria ido para Gualtar, que mais não fosse como vossa claque, e também para arreliar o Ferreira Gomes, o que adoro (arreliar) - até porque quando ele não desata a embirrar com o que ele pensa sobre o que os politécnicos podem ou devem fazer, parece ser uma boa pessoa e que até pensa mesmo e muitas vezes bem, o que para os tempos que correm...

J. Cadima Ribeiro disse...

Caro Alexandre Sousa,
Quando lhe falei na necessidasde da acta, e da exigência incontornável que a Regina Nabais punha nisso, não estava a pensar na produção da obra-prima com que quis brindar-nos.
Como deixei esboçado, era mais um daqueles docs. incolores e inodoros que habitualmente produzimos em sede de Departamento ou de conselho científico.
E, agora, com que cara vou eu aparecer aos meus caros colegas?
Um grande abraço para si, para a Regina Nabais, e para todos quantos ainda ousam sonhar ou, pelo menos, ser irrequietos,

Alexandre Sousa disse...

A palavra-chave que está no texto, singularmente ou talvez não, é a referência ao espaço concorrente Universidade Alternativa. O abraço em forma de plágio do Caetano Veloso vai para outros concorrentes, Regina, Virgílio, Matos. Concorrentes porque eu enfermo de um pensamento geométrico, e em geometria concorrer é confluir para um ponto. Serve-me perfeitamente, quer o ponto de encontro dos sonhos ou apenas o da irrequietude.
Regressemos à acta. Falando sério, há coisas que tem de ser buriladas em torno do RJIES e o Cândido trouxe tudo isso para a mesa com um sentido de missão que senti ser notável – aquele abraço para o Cândido – é a questão da concretização da assembleia que se coloca em todo o lado, são as múltiplas facetas do Conselho Geral (que elegi como a peça onde vai encastoar tudo quanto passa a ser movimento) são as célebres universidades fundacionais, é a não resolvida inclusão versus exclusão de politécnicos e universidades, é a autonomia das unidades orgânicas que não vai ser uniforme de acordo com a tradição e a cultura de cada uma das «casas».
Resumindo, pode ser-se um optimista mas não se perde o norte de que isso, provavelmente, traz muito mais responsabilidade do que dizer simplesmente NÃO.
Um abraço e continuaremos….

Virgílio A. P. Machado disse...

Grato pela atenção e intenção. É orgânico. Dou-me mal a colaborar em iniciativas com que não concordo. A experiência diz-me que o sentimento de alienação não vai parar de crescer e o afastamento é inevitável. Tenho que me remeter a deixar mexer os crentes, mantendo a minha rotina, enquanto vou assistindo, penosamente, ao delapidar dos bens da família pela terceira geração.

Alexandre Sousa disse...

Alô, alô, Virgílio, qué isso, tudo menos orgânico.
Na minha declaração de interesses está lá expresso, a cinzel escrevente na pedra que Caetano Veloso se canta só para os amigos mais chegados, mesmo que não bebam alcool ou aparentados.