sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Declaração de interesses



Acho bem que exista esta figura de estilo, agora que nalguns Partidos Políticos se faz força por eleições directas, embora eu seja um votante muito especial: voto raramente e sou adepto de que se dê mais importância ao acto do «não voto».

Como diz Virgílio no seu comentário à nossa vã cobiça de intervir no pós-RJIES. Retenho da sua prosa, mordaz, mas coerente como não podia deixar de ser: «Dou-me mal a colaborar em iniciativas com que não concordo.»

É isso que me coloca a maior parte das vezes fora da secção de voto.

Também porque (não) sou coerente e uso com muito orgulho a minha identificação com um animal peludo, voltarei a escrever – depois de congeminar durante um tempo mínimo – sobre uma questão política que a Isabel Ferreira colocou (19.09.07) ao «auditório» e que por razões de acústica é sempre muito difícil ouvir:

Isabel: - As escolas têm ou não têm autonomia? Verdadeiramente assumida?

Responderei eu e o meu amigo burro. Oh! Isabel, a mensagem do Zé Mariano, politicamente, pode resumir-se num anúncio de uma maior autonomia e responsabilidade para as IES, que têm de encontrar o seu próprio caminho; acrescentará o burro: - Para a sustentabilidade!

Zé Mariano também entra no diálogo: - Isto implica que se terão de implantar sistemas de governação e de gestão mais profissionais e rigorosos, que sejam capazes de superar a fragmentação das universidades em institutos, faculdades, departamentos, laboratórios e outras unidades orgânicas.

Diz o burro: - Oh! companheiro, apanhei-te em contradição. Então e o condomínio do Tagus Park de que usufrui o teu IST?

Zé: - Só os burros é que me podem acusar de ser promotor de um empreendimento imobiliário que não domino. Isso são jogos do MH. Não tenho nada a ver com isso.

Recordam-se todos, da primeira à terceira geração, da história ilustrada pelo cartoon que está no degrau da entrada. Esse mesmo, o inefável mullah Nasrudín e seu respeitável asno, que depois de múltiplas versões também veio a gerar «o velho, o rapaz e o burro».

Não sei, porque de múltiplas versões se trata, a quem pertence esta peça:

“…as unidades orgânicas devem contribuir para o somatório de esforços colectivos que dão consistência à estratégia da instituição, estabelecendo as prioridades e especialização (diria eu de minha lavra: diferenciação) nos âmbitos da investigação, docência e transferência de conhecimento para a sociedade.»

Fico sentado, nos degraus de granito, sem saber (ou não querer dizer) como se resolve este conflito:

(1) desenhar a estratégia

(2) disseminá-la por toda a instituição

(3) forçar as unidades orgânicas a trabalhar para os objectivos

(4) avaliar os indicadores fornecidos por todo o tabuleiro

E agora Isabel(es)? Como resolvemos esta charada da autonomia das Escolas?

Esqueceu-me o ponto de partida…

Declaração de interesses:

Filhos muitos. Canções da minha vida: as do Jorge Palma. Poetas de eleição: Cesariny e O’Neill. Escritor de fora e da juventude e da velhice também: Albert Camus. Escritor do pós-juventude: Mestre Aquilino.

Clube: azul e branco. Região do coração: Noroeste da Ibéria.

A sua bandeira (a do interessado): anti-dogmatismo; ontem, hoje e sempre.

3 comentários:

Luis Moutinho disse...

uma grande, enorme vénia.
só não tenho autor do pós-juventude... (tenho a ilusão de que ainda não a perdi!)

Alexandre Sousa disse...

Viva Luís, bom dia;

Regina comentava um destes dias no blogue do JVC que é bom, às vezes, estar do outro lado do muro, até porque o muro não é opaco, vamo-nos vendo uns aos outros, desde que a máquina do nevoeiro não esteja ligada.
É um dos argumentos saudáveis para justificar esta proliferação de escritas várias; percebemos que afinal os todos iguais todos diferentes são uma espécie de habitantes do Fahrenheit 451.

Rosa Silvestre disse...

Também sou fã de Cesariny e O’Neill.
" E sou, no sentido mais enérgico da palavra
na carruagem de propulsão por hálito
os amigos que tive as mulheres que assombrei as ruas por onde
passei uma só vez
tudo isso vive em mim para uma história
de sentido ainda oculto
magnífica irreal
como uma povoação abandonada aos lobos
lapidar e seca
como uma linha férrea ultrajada pelo tempo
é por isso que eu trago um certo peso extinto

Que uma coisa pensa o cavalo;
outra quem está a montá--lo".
Cesariny e O’Neill
e nada de dogmas.....bah!