domingo, 30 de setembro de 2007

Combate do primeiro dia do resto da nossa vida




Há coisas que partilho com muitos outros e outras que possuem algum apontador para a obra de Albert Camus e que, tradicionalmente, nunca questiono porquê. Tal qual procedo para comigo mesmo, há uma parte significativa de nós que deve ser mantida como reserva. Por um lado por uma questão de recolhimento, pudor, mas também posse, egoísmo, narcisismo, vergonha, incómodo com a partilha; por outro lado, existe o problema das identidades, nem sempre estamos disponíveis para jogar o jogo dos outros.

Regressar aos livros e sobretudo às anotações de Camus é um desafio giro, porque não existe mais o deslumbramento dos 18 anos. Também não é tanto a pseudo-experiência da geração prateada. É o ter direito às minhas próprias observações e contradições. Deixei cair o pessimismo das borbulhas quase quase a seguir à descoberta do Mito de Sísifo e do Estrangeiro e vesti a T-shirt de lutador praticamente em seguida, o que me dá imenso jeito para olhar estas coisas com aquela despida sobranceria do ‘confieso que he vivido’ (Pablo Neruda). Vamos lá então distribuir algumas destas notas:


● Jean-Paul Sartre já depois de ter cortado a amizade com Camus, fazia gala de demonstrar a incompetência filosófica do meu amigo. Para Sartre a incompreensão é sobretudo a generosidade de Camus (aquilo que mais me atrai). Camus é muito especialmente uma tentativa de equilíbrio entre a «vontade de ser justo» e a felicidade proveniente da auto-estima. Posso não ter conseguido apreender bem o modo de estar de Camus, mas a sensação é sobretudo traduzida pelo comportamento do seu herói Meursault (L’Étranger): o narrador, é um simples empregado de escritório, com uma existência medíocre limitada pelo deixa andar dos gestos quotidianos e a recolha instintiva de sensações elementares. A sua vivência é uma espécie de torpor, uma estranha indiferença: no momento de agir, ele nota, habitualmente, que pode fazer isto ou aquilo que… «lhe dá igual».

● Um dia Camus escreveu: «Eu não sou um filósofo.» Percebe-se o cansaço de quem luta por se libertar dos ‘fatos à medida’ que os outros encomendam por nós. Adivinha-se a falsa indiferença de quem come o menu encomendado, sempre, pela solícita esposa. Trata-se de uma questão recorrente em torno do estatuto da obra de Camus.
Não me preocupa a etiqueta de hierarquização do estatuto de Camus: ser ou não ser «um mau filósofo» pouco me preocupa. Podemos sentir, claramente, as verdadeiras fontes da obra, por exemplo no rochedo de Sísifo, representação da imensa angústia do homem absurdo, contrário à figura romanceada do Estrangeiro que se torna numa incarnação da Diferença.

● Andam por aí uns ‘apuntes’ com paternidade de J.F.Mattei, penso eu com origem nos Carnets ou nos Cahiers, que dá muita leitura de Hölderlin na obras mais filosóficas, casos de : L’Envers et l’endroit, L’Homme révolté, Le Mythe de Sisyphe, enquanto que os escritos mais líricos como ‘Noces à Tipaza’ (não resisto a dizer que tive de lá ir em 1973, são 70 km a partir de Argel, na costa, entre a montanha e o mar) estão reconhecidamente influenciados pelas leituras de Heidegger.

L'indifférence à l'amour*
(*L'Étranger - édition Gallimard, 1957, pp 64-65)
"Le soir, Marie est venue me chercher et m'a demandé si je voulais me marier avec elle. J'ai dit que cela m'était égal et que nous pourrions le faire si elle le voulait. Elle voulait savoir alors si je l'aimais. J'ai répondu comme je l'avais déjà fait une fois, que cela ne signifiait rien mais que sans doute je ne l'aimais pas. «Pourquoi m'épouser alors ?» a-t-elle dit. Je lui ai expliqué que cela n'avait aucune importance et que si elle le désirait, nous pouvions nous marier. D'ailleurs, c'était elle qui le demandait et moi je me contentais de dire oui. Elle a observé alors que le mariage était une chose grave. J'ai répondu : «Non.» Elle s'est tue un moment et elle m'a regardé en silence. Puis elle a parlé. Elle voulait simplement savoir si j'aurais accepté la même proposition venant d'une autre femme, à qui je serais attaché de la même façon. J'ai dit : «Naturellement.» Elle s'est demandé alors si elle m'aimait et moi, je ne pouvais rien savoir sur ce point. Après un autre moment de silence, elle a murmuré que j'étais bizarre, qu'elle m'aimait sans doute à cause de cela mais que peut-être un jour je la dégouterais pour les mêmes raisons. Comme je me taisais, n'auant rien à ajouter, elle m'a pris le bras en souriant et elle a déclaré qu'elle voulait se marier"

2 comentários:

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