terça-feira, 24 de julho de 2007

Another Brick in the Wall




Esta é uma canção que tem servido de símbolo a perigosos radicais europeus, também africanos, desde o último terço do século XX, mas que à falta de melhor, continua a dar cor e vida ao caminho do maquis.
Fui buscar a música e estou em cima dela desde que me chegou a última mensagem do grupo Lurdes, Walter & Associados. Simpáticos e urbanos, como sempre, nada a assinalar por esse lado do Reino da Dinamarca.
Como em qualquer sociedade desenvolvida e esclarecida, pudemos todos assistir, via SIC ou RTP1, à apresentação do filme «tenho-um-quadro-interactivo-na-sala-de-aula», na senda dos melhores filmes publicitários que nos vêm chegando desde a cidade grande , cumprindo escrupulosamente o bem gizado Project Management do Governo Definitivo.

Humildemente, tive a desfaçatez de infiltrar uma pergunta subversiva (é claro) no meio do bloco em branco de um dos jovens (mas promissores) jornalistas que assistiam embevecidos ao espetaculo (nova ortografia, já em vigor). E a pergunta era:
- Senhora jovem Ministra, tenho um quadro interactivo na sala de aula & depois?
A jovem Ministra da Educação Inferior recebeu via auricular, uma abébia rápida proveniente do betinho que, na sala, dirigia o instrumental semeado pelo departamento de marketing da empresa ganhadora e disse, triunfalmente:
- Como o senhor jornalista sabe muito bem, vai estar disponível em cada escola, um dossier contendo todos os catálogos da empresa fabricante dos quadros interactivos. Qualquer professor pode, preenchendo a ficha respectiva, levar o dossier para copiar num centro de cópias à sua escolha, repondo em seguida a documentação, no sítio de onde a subtraiu. Senão, lá temos os estafados processos e coisa e tal.

Saímos da conferência de lágrima no canto do olho.
Isto sim… isto é visão de futuro. E andam por aí à solta, alguns palermas, a bramir que é necessário ter uma máquina de pensar e produzir conteúdos, que é preciso preparar e actualizar as cabeças dos nossos professores da educação inferior, que precisamos disseminar centros de apoio a estas coisas dos quadros interactivos por Chaves, Arronches, Castro Marim, Piornos eu sei lá que mais há na geografia de Portugal.
Claro, intelectualoides de plástico como Diane Oblinger ou a Gilly Salmon, para só referir mulheres que se sentem ensombradas com a clarividência da Professora Lurdes e do Especialista Walter, vão zurrar que este Plano Tecnológico é um tigre de papel (em especial papel de factura e recibo), mas digam-me lá, digam-me lá, para que precisamos nós de coisas trágico-cómicas como propõem algumas vozes de burro:

Organizar isto por camadas
1.ª camada - a da observação, em que os miúdos exploram exaustivamente os módulos de aprendizagem que estão disponíveis (imagino, que aos milhares…);
2.ª camada - a da participação, através da qual a miudagem se envolve em simulações e cenários ‘online’ plenos de interactividade, praticando o célebre «aprender fazendo»;
3.ª camada - a da colaboração, promovendo interacções entre uns e outros, e (estava a esquecer-me) com muitos, mesmo muitos professores.

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