quarta-feira, 14 de maio de 2008

Professors as producers (I)

A manhã está um espectáculo. No alto do chão da Casa de São Silvestre (Cel.º de Basto), hoje Biblioteca Marcelo Rebelo de Sousa (Prof. Doctor, claro, claro), sentimo-nos mais integrados no todo da natureza, entre raios de sol e ramos de carvalho, entre oliveiras centenárias (não desenraizadas do Alqueva) e buchos que serpenteiam a fazer caminhos.
Que mais belo sítio quereria eu para pôr os meus (maus) papéis em ordem?


De hoje a uma semana vou dar início a mais uma série de sessões dedicadas aos meus alunos dos MBAs. A maioria deles provem da inscrição no MBA de Recursos Humanos – também se poderia chamar MBA de Pessoas – via processo do passa-a-palavra; esperam-me trinta e tais voluntários.
Vaidoso como sou, gosto que os alunos se lembrem sempre de mim pelo facto das aulas não merecerem sapateado (para já). Que pena eu tenho, de não existir esse fantástico meio de comunicação nos hábitos dos estudantes portugueses da educação superior. Quando a aula não presta… porque não um bom sapateado orquestrado pelos alunos presentes?
O professor também pode ser autista ou em termos mais leves, o professor pode não ver nem ouvir o que se passa na «sua» sala de aula. Abre a sessão com o «seu» programa e vai dando música aos seus ouvintes. Que bom que é, sempre que os ouvintes também participam na evolução da música; melhor ainda quando pedem bis. Terrífico! sempre que o professor é obrigado a um «encore».

Sou o menos «famoso» de todos os meus colegas e camaradas.
Quis o fado, quer o destino, que haja sempre um aluno que se sinta bem na minha sala e vai ser esse o apóstolo divulgador da palavra através da rede mafiosa que promove disciplinas (cursos na terminologia anglo saxónica) e que destrói perfis sedutores fabricados pela eterna malta que apregoa os feios e os bonitos, os bons e os maus, os que sabem e os que nem por isso. Os que são cool e os que são uma seca!

A minha sala de aula é um laboratório de democracia aplicada. Há quem exerça a função de líder ao longo das 4 horas que duram os trabalhos, há quem participe de corpo e alma no desenvolvimento dos trabalhos e obviamente, há quem assista ao jogo.
Procuro conhecer (possuo meios para isso) os alunos com umas semanas de antecedência; apresento-me via eMail, manipulando algumas expectativas, apontando a plataforma de eLearning, mostrando o caminho para o Blog da disciplina (curso). É importante que os estudantes possuam uma visão, qualquer que ela seja, do que os espera. Que raio de disciplina (curso) é esta? De que se trata? Que vamos p’ra ali fazer? Partindo desse primeiro marco, obtido que está algum conhecimento sobre os pepes-rápidos que se entusiasmam à primeira chamada, põe-se em prática uma metodologia de aproximação (também pode ser jogo de sedução), que vai evoluindo à medida que a própria «massa» se vai modificando. É que, esta profissão, tem de ser tremendamente adaptativa no seu modo de pensar o fazer.
Claro que tenho concorrência no meu mercado. Quer eu, quer o meu concorrente, procuramos não sobrepor as nossas disciplinas (cursos) na mesma grelha do calendário. O meu concorrente – foi assim designado pelos alunos – é o director dos MBAs e o curso (disciplina) dele é o bem estruturado ambiente de «estudo de casos» orientado para a Estratégia. Quando termina a disciplina (curso) dele, começa a minha disciplina (curso) e esta, tem a ver com a gestão da inovação. Sou, por mal dos meus pecados, trabalhador e prático das coisas que tem a ver com a minha disciplina (curso) desde 1998; mantenho-me no activo, ao serviço – bem pago – do sistema científico e tecnológico do Euskadi.
Aqueles teimosos da Guipuzkoa-Bizkaia-Alava, contrataram em 1996 um senhor chamado Michael Porter – a União Europeia pagou – para explicar aos bascos como se construía uma região competitiva. E não é que eles ficaram crentes?

Tenho estado, ultimamente, concentrado num diálogo através da Net, com alguém que está a 7000 km de distância ou isso, trocando ideias e bitaites avulso em torno do processo educativo. OJO! Processo educativo na prática. Pese embora, diferenças culturais, tradições educativas e alternativas de percurso: antes, durante e após.
O meu discurso começa com uma premissa: - O professor é um produtor.
Produtor no sentido cultural, tal qual o que produz cinema ou teatro ou música. Produtor no sentido daquele que orienta a produção de um bem, contribuindo tantas vezes com financiamento (pelo menos em parte) para essa mesma produção. Afinal, o que custa (?!) à universidade, o meu envolvimento num projecto da Simoldes, onde o meu desempenho na ciência da modelação e simulação vai ser várias vezes melhorado, pelo facto de eu ser confrontado com um problema prático da Toyota, que nunca seria tema no Campus Santiago?


Regressemos ao plano da aula prevista para 19 de Maio próximo:


1. Programa da disciplina afixado na plataforma eLearning no espaço que lhe está afecta; objectivos, método, bibliografia e tudo o mais convencionado para ensino presencial. É lá que se encontra o repositório de documentos, maioritariamente em língua inglesa, quer de apoio, quer de apresentação dos temas, tópicos, e coisas interessantes produzidas por pessoas que conhecem a disciplina (curso) ou para ela têm trabalhado quer no plano teórico quer (sobretudo) no prático.


2. Há sempre um documento nuclear que nos vai fazer voltar «ao local do crime». É esse o nosso problema de estudo, foco ou fulcro de tudo quanto se vai passar durante o curso (disciplina). Sessão a sessão, toda a evolução (regressão) acontecida ao longo do calendário (plano) vai ser reportada no Blog. Interessa-nos rever a discussão, o debate, as perspectivas e diversidade dos pontos de vista, às vezes com algum distanciamento.
5 a 10 dias é uma boa almofada de tempo para «bater outra vez no ceguinho».
O curso (disciplina) possui obrigatoriamente 4 temas e cada um deles está afecto ao mesmo número de horas presenciais.

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