1 em cada 10 desempregados tem «papéis» da educação superior
Olhar para um post-it com esta anotação significa experimentar uma variedade notável de perspectivas:
● A educação superior oferece maiores oportunidades (teóricas) de trabalho, porém não garante nada;
● Ter educação superior pode favorecer maiores possibilidades de eu vir a ser um trabalhador sobre qualificado (diplomados com educação superior cujo emprego não está alinhado com a sua formação);
● Ter educação superior significa maior potencial para práticas de infidelidade laboral;
● Ter um doutoramento ou um mestrado pendurado na parede do ‘office’ é anúncio prévio de concorrência directa feita ao seu superior;
Maria Guida (nome fictício) está a terminar a sua tese de doutoramento em Gestão Industrial, o que é compatível com o exercício de actividade profissional numa empresa. Durante (um mau bocado) a sua pesquisa de emprego, conheceu em primeira-mão e discurso directo, os obstáculos que afronta uma pessoa academicamente qualificada, sempre que lhe passe pela cabeça procurar colocação fora do âmbito universitário (politécnico) ou do sistema público de investigação.
A situação de Maria não é de fácil generalização, antes exige algum conhecimento de cálculo matricial. Não é a mesma coisa ser doutorado em engenharia biomédica, robótica ou sociologia. No último caso, as dificuldades chegam via desconfiança ante pessoas que se percebem ser demasiado teóricas – e com experiência nula nas lides do mundo empresarial, pese embora o currículo universitário. No primeiro, é mais o desconhecimento das contribuições que pode realizar um doutorado, aquilo que trava maiores desejos de incorporação.
Nem tudo o que se desenrola no meu dia-a-dia é prazenteiro. Tenho de aturar vezes sem conta, bitaites, opiniões e factos consumados, plantados por gente importante que continua a ignorar que a grande potência norte-americana, em breve a ser governada por três-em-um, tem quase nada parecido com a velha Europa. Não é possível continuar a tentar vender coisas que, embora interessantes e com cotação em S.Diego ou Salt Lake City, são difíceis de entregar em Genève, Viena, ou mesmo impossíveis de serem replicadas em Vilar de Maçada. Dizia-me FB, doutorado em biologia, numa daquelas maçudas reuniões de totós que, de quando em quando, tenho de aturar na COTEC:
"A criação dos departamentos de I&D nas empresas é uma via verde para despachar mestres e doutores, …”. Alguém, gordorosamente, buzinava-me ao ouvido: - Este sabe o que diz… sabe do que fala, porque durante anos exerceu este trabalho numa empresa dos Estados Unidos.
"As empresas vão sempre preferir um graduado (3 + 2) em vez de um doutorado" sustenta o meu amigo PC, responsável por uma área nova da Martifer. "Não duvides que identificamos um doutorado com o ambiente académico e mais nada; quando um gajo destes entra num processo de selecção aparecem sempre ‘pontos pretos’, como que reclamará que se lhe pague mais porque possui mais formação, ou que mal tenha oportunidade dá gás à tábua e compromete-se num projecto de investigação com o Ineti ou outra treta parecida".
PC continua imparável: "Pode dar-se o caso de que os doutorados comecem a procurar emprego no sector privado quando rondam os 35 anos, o que implica que sejam vistos como menos ‘moldáveis’, menos adaptáveis à cultura empresarial, e sem a experiencia dos graduados que chegam à empresa pela porta do estágio curricular".
Que sabem ou conhecem as empresas, sobre os pontos fortes que os tais doutorados lhes podem acrescentar, melhorar, reforçar, construir? Que virtudes trazem consigo no saco de dorso, os doutorados?
A não ser que se trate de um tótó ou de um betinho, o doutorado tem obrigação de ‘pagar’ a sua falta de experiencia, com outras aptidões e competências, que são muitas e valiosas. Entre elas, a capacidade para o trabalho em equipa, análise e gestão da informação, hábitos de planeamento e organização, disposição para actividades do tipo aprendizagem-acção, criatividade, alguma sabedoria derivada das suas estadias por Seca & Meca e domínio de idiomas. Desculpem se me enganei!
A educação superior forma mão-de-obra cada vez mais barata. Os graduados universitarios ou politécnicos, quer se tratem de engenheiros, economistas ou educadores sociais, cobram (quando cobram) cada ano que passa salários mais baixos quase sempre sob contrato temporário.
Não vai assim muito tempo atrás, procurava eu argumentos em favor do curso de Engenharia e Gestão Industrial, numa grande unidade industrial da Ria de Aveiro, daquelas que só exportam. Dizia-me o Mário (nome verdadeiro), jovem director da logística externa: - Oh! Professor, não tivesse eu nascido em Leipzig, não tivesse eu feito o ensino básico naquela enorme Alemanha e tiriritirititi. É de manhã à noite, telefone para a República Checa, camiões para a Polónia e bota e vira.
Engenharia e Gestão Industrial? Está bem está!
Esqueceu-me um ponto importante: diz o PC (Martifer) que estão na moda duas omissões simpáticas sempre que mandas o currículo para análise e avaliação.
UM, não menciones a idade. Depois logo se vê.
DOIS, não menciones que tens o Mestrado. Escreve qualquer coisa como... Interrompi o Mestrado em 2005, blablablablabla. Depois logo se vê.
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