terça-feira, 4 de março de 2008

O meu País não é igual ao teu



Em quase quase dez anos, foi a segunda vez que passaste um dia comigo, Beatriz.
Fui buscar-te a tua casa plantada na encosta do Sol Nascente e viemos estrada fora a tagarelar sobre a nossa vida. A tua escola primária é das maiores do país, é uma boa escola pública e tu gostas imenso da tua sala, da tua professora Manuela, dos teus amigos. Já tens saudades e ainda não arrumaste os teus pertences lá na sala.
A minha escola superior não é das maiores, tem coisas (poucas) boas e algumas más, é demasiada recatada para o meu gosto, falta-lhe mar, horizonte, largura de braças, vive demasiado entre as 9 da manhã e as 17 da tarde. A minha escola a partir das 12 horas de cada sexta-feira fica fechada para fim-de-semana.
A Beatriz é uma miúda desempenada, sem teias de aranha, deve à mãe aquele ar exótico de 8ª ou 9ª geração de costa africana do Índico. Deve mais coisas à mãe, obviamente, em especial o facto de ser um dos três planos aos quais a mãe se dedica, para além das equações diferenciais.
Fizemos uma viagem do outro mundo, o carro é velho (2 lugares) mas tem um motor novo de 1500 cc, o toca música é das melhores coisas que por aí andam e Beatriz nunca tinha descoberto a música do Gershwin, para ela ainda quase tudo passa por Schumann, Freitas Branco, Chopin,…
Beatriz já ganhou uma medalha de prata num concurso internacional por ter interpretado uma composição difícil, daquelas em que as mãos mexem ao contrário a correr por cima das teclas do piano.
As gargalhadas de água clara que a Beatriz soltou, quando lhe fiz uma demonstração do que era música pimba por entre o roteiro de eruditos que enche o tablier do velho carro (2 lugares).
Não se vai esquecer de pedir à Professora Tatiana para praticar Gershwin, embora eu tenha quase certeza que vai levar em troca Rachmaninnoff ou mesmo Sergei Sergeyevich Prokofiev.
Já aterrados na Casa do Pujal, brincamos ao “pas de deux” e “à la quatrième derrière” do ballet que traz a Bia entretida desde os cinco anos de idade. Claro, claro que tinha de vir à liça o facto de haverem poucos rapazes nas práticas do ballet e das marotices brejeiras que associam a dança a outros olhares culturais.
Admirada, Bia questionou-me seriamente das razões que levam a mãe a não saber fazer bolos enquanto nos deliciamos com um bolo que lhe fiz no enorme fogão a lenha, ao correr da tarde. Caminhamos pelas veredas da Serra da Queimada até às nascentes do ribeiro do Pojalho, mas o que de facto encantou a Bia foi a sabedoria exigida na descoberta dos ovos das galinhas que vivem no campo ao longo do dia.

Já era noite quando fui entregar a Beatriz à sua vida do dia a dia. Ambos os dois tivemos direito a regressar, cada um ao seu respectivo país.

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