sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Profissões e Títulos: vamos fazendo o caminho (I)



Nem todos temos o poder de sonhar e de esquissar caminhos novos (como faz Virgílio Machado – ler em especial Q11 a Q13 e Q18 a Q24), hipoteticamente apostando (nós) na ausência de bases culturais para encarar os projectos estratégicos como eles devem ser encarados, isto é a longo prazo. Porém, nada nos impede, antes ao contrário, porque não faz mal a ninguém, embrenharmo-nos na discussão crítica destas coisas, ganhando perfeição para os nossos argumentos, na maior parte das vezes a partir dos argumentos dos outros.

Uma antiga aluna minha, a que chamamos Magui, psicóloga (médica) com empresa de recursos humanos montada na praça pública, diverte-se imenso comigo numa troca, baldroca, de argumentos falaciosos, para não dizer sofismas maldosos, mutuamente contando histórias sobre o anedotário nacional-porreiro em que todos andamos metidos até ao pescoço e alguns mesmo até ao cabelo, entretendo-nos de quando em quando, também sonhando aqui e acolá, na hipótese remota de arrumar alguns paralelepípedos do caminho.

Este parágrafo que Regina Nabais deixou ontem a azul, nas nossas notas politécnicas, sobre a evidência de que um curso superior de 3 anos é um bacharelato, já fazia parte de uma das peças que eu montara anteriormente com a Magui, para explicar aos papás, mamãs e titis, de candidatos a instituições de educação superior, algumas vantagens que podem beneficiar o Quicas ou a Bibas, se estes se candidatarem a Engenharia Biomédica colocando Engenharia e Gestão Industrial em segundo plano (exemplo fictício). Também faz parte da peça, à moda de segundo acto, uma demonstração (hipotética) de como acumular mais pontos positivos se fizer a inscrição no IPP em vez de optar pela FEUP.

São extractos dessas peças que tentarei baralhar por aqui, nos dias mais próximos.

ALEMANHA

Na Alemanha existem dois tipos de engenharias:

- ciclo comprido (longo), de carácter predominantemente científico e orientado para a investigação, de uma duração de 9 semestres (na realidade isso custa aos estudantes entre 12 e 14 semestres, dependendo do programa) e que conduzem ao título Diplomado em Engenharia. Esta formação reparte-se pelas Universidades Técnicas e pelas Escolas Superiores Técnicas. Estes estabelecimentos de ensino estão habilitados a partilhar cursos de doutoramento.

- ciclo curto (breve), com uma duração de 8 semestres ( 2 deles correspondem a práticas empresariais); formação realizada em Centros de ciências aplicadas ou Escolas técnicas de dimensão menor do que as Universidades e muito vinculadas à indústria.

A excessiva duração destes estudos implicava uma entrada tardia na vida profissional activa. Por outro lado, foi verificado estatisticamente, que havia pouca atractividade por parte destes cursos. Assim, o Governo (1998) antecipou aquilo a que hoje chamamos Processo de Bologna (1999), alterando a duração e estrutura das graduações. Não só, outorgou maior autonomia às instituições de educação para criar programas distintos e lançou um novo sistema de acreditação.

Com esta reforma, cada estabelecimento pode criar livremente programas de Bachelor e Master submetidos a uma só acreditação:« a joint bachelor's and master's degree after four or five years» Nota: é isto que eu denomino Mestrado Integrado!

A substituição (lenta) do antigo sistema pelo Bolognês está prevista para 2010.

O novo sistema Bachelor/Master tem tido muitas dificuldades práticas provenientes das reticências com que a educação e a indústria o tem encarado.

E nas Universidades?

Tradicionalmente, as universidades alemãs mantêm cursos com uma duração de 9 a 10 semestres de formação teórica, constituídos por 4 semestres de formação de base e 5(6) semestres de formação “principal”. As duas fases constituem um único ciclo, no final do qual se obtém o diploma.

Com a reforma, as universidades devem transformar o seu programa tradicional de ciclo único e criar carreiras de dois ciclos: Bachelor e Master.

Se fosse à portuguesa, isto era feito num abrir e fechar de olhos, visto que eles já estavam estruturados em duas fases. Azar, os germanos são uns chatos e deram conta que Bologna tem uma lógica: o ciclo Bachelor deve ser de orientação profissional e deve permitir aos graduados o acesso ao mercado de trabalho, o que não corresponde ao ciclo inicial dos estudos universitários actuais.

Como não podia deixar de ser, o debate tem sido aceso e 9 universidades formaram um consórcio de resistência (Aquisgran, Berlim, Braunschweig, Darmstadt, Dresde, Munich, Hannover, Karlsruhe, Sttutgart) propondo que Bachelor é só uma etapa intermédia para o ciclo seguinte, enquanto que o Master seria a meta. Este plano foi seguido pelo DETI (U.A.), por exemplo para o curso de Telecomunicações e Electrónica.

O super-argumento é no sentido de que o Bachelor deve servir principalmente para aceder ao Master dentro do mesmo curso, por exemplo Gestão, podendo também servir para mudar de estudos (curso) ou para poder incorporar-se na vida profissional. Porém, só o Master é que deve ser considerado como título «normal» de acesso a determinadas profissões ditas de estatuto académico.

A agência de acreditação dos cursos de engenharia estabeleceu recomendações gerais sobre o conteúdo do programa Bachelor cientifico:

●Bases matemáticas e científicas: 20%

●Bases relacionadas com a especialidade: 25%

●Matérias da especialidade: 25%

●Matérias transversais: 15%

●Dissertação de final de curso: 12 ECTs

●Projecto: a determinar em função da especialidade

FINLÂNDIA

Este país do Báltico tem 20 universidades todas públicas, com cerca de 160000 estudantes inscritos e 29 institutos politécnicos com 130000 estudantes, dependentes das autoridades locais – financiados pelo governo central e autoridades locais ou consórcios municipais – alguns, poucos, são de carácter privado.

Temos aqui o sistema estruturado em dois sectores paralelos (o site da embaixada tem um esquema disponível na página). Os institutos politécnicos possuem de facto, uma orientação mais prática ou profissional do que as universidades.

Nas universidades existem 4 níveis: Bachelor, Master, Licenciado, Doutorado.

No nível post-Master existem na Finlândia, além dos doutorados, uns cursos pré-doutorais, opcionais, com uma duração de 2 anos e que dão direito ao título de Licenciado. É um título facultativo, prévio ao doutoramento e que não existe em todos os cursos.

Os estudos de doutoramento têm uma duração de 4 anos post-Master ou 2 anos post-Licenciado.

Com a reforma de Bologna, a educação superior fica estruturada em dois ciclos: um ciclo Bachelor, implantado em todos os cursos, com excepção de Medicina.

ATENÇÃO agora:

As universidades criaram um Bachelor de 180 ECTs e um Master de 120 ECTs.

Depois do Master é possível preparar o doutoramento ou a formação post-Master (não doutoral).

Os institutos politécnicos passaram a ter Bachelors de 210-270 ECTs (não me enganei, não) que duram 3,5 a 4 anos. Alguns destes Bachelors são concretizados em cooperação com a s empresas, ou seja, parte da formação é realizada na empresa.

Os Masters outorgados pelos politécnicos têm a duração de 1 a 1,5 anos (60-90 ECTs).

Na Finlândia cerca de 72% dos jovens são detentores de formação numa instituição de educação superior.

Sem comentários: