terça-feira, 25 de setembro de 2007

CERI (2006) – cenários – Segunda sessão


A Comissão Europeia y sus muchachos, ao longo do programa de trabalho para a educação e formação 2010, fez dele um alfobre de comunicações e recomendações sobre a necessidade (evidente) de adequação e modernização das instituições europeias de educação superior. Mesmo que grande parte da produção esteja escrita em europês, já consegui com pequeno esforço, extrair ideias legíveis.

Como fazer para que os financiamentos sejam usados com eficácia?
Como se consegue que Us & Ps obtenham fluxos de caixa adequados e sustentáveis?
Como conquistar autonomia e reconhecimento profissional quer no âmbito académico quer na actividade administrativa?
Como é possível tomar parte na corrente ascendente e pairar lá em cima no tecto do sistema?
Como estar de bem com o Processo de Bologna e ao mesmo tempo com a sociedade do meu país?
Como participar no suprimento das necessidades & estratégias locais e regionais?

Não tenho coragem (embora seja mentiroso) para afirmar que as propostas adiantadas pelo CERI (2006), mesmo tendo o carimbo da OCDE, sejam uma espécie de sina para o futuro. Podemos antes, ler, analisar, criticar, sugerir hipóteses que reflictam perspectivas diferentes susceptíveis de servir como uma base para a acção.

O primeiro cenário tem por etiqueta «rede aberta» e nele, a educação superior faz parte de um tabuleiro internacional, onde as peças são representativas de numerosas e grandes instituições. O princípio orientador tem muito a ver com a cooperação voluntária e menos com a concorrência entre Us & Ps. Os estudantes, agem com bastante liberdade, desenham o currículo dos seus estudos, escolhem cursos sejam presenciais, sejam ‘on line’, podendo recorrer mesmo ao GoogleMap para seleccionar os sítios que os certificam (a eles, estudantes). O inglês é a língua ‘franca’ para a educação superior.
O trabalho de investigação também é realizado em redes ou através de redes de cooperação, obrigando (aqui, ninguém é parvo), no entanto, a uma estrita hierarquia de instituições de sumo prestígio, possuidoras daquele aroma atraente de mel, projectos e fundos muitos.

O segundo cenário recebe a denominação de «serviço às comunidades locais» e aponta para um posicionamento orientado para a satisfação de necessidades de âmbito regional e nacional. O seu financiamento e administração são de cariz predominantemente público e apenas uma pequena elite destas universidades está vinculada às redes internacionais de investigação, mais prestigiadas. A grande maioria do grupo, dedica-se a actividades de docência e desempenham um papel menor no circuito das tarefas de I&D. Possuem uma boa relação com a indústria local, para quem desenham programas de formação e actualização e são muito activas no seio da cultura praticada pela população envolvente. A investigação universitária está muito comprometida com o tipo de ciência ‘gama’ voltando-se para as ciências sociais e para as humanidades, obviamente menos custosas em termos financeiros. As ciências ‘alfa’ e ‘beta’ são desenvolvidas por institutos públicos integrados em redes de cooperação internacional.

Temos ainda o terceiro cenário, «nova gestão pública» que mantém o financiamento público às instituições de educação superior, porém, com forte ênfase em novos sistemas de gestão que respondam às chamadas forças do mercado e com incentivos financeiros. Ainda que o financiamento público continue a ser determinante, existe ampla autonomia para desenvolver o modelo de negócio, atraindo estudantes estrangeiros, estabelecendo o valor das propinas (taxas), patenteando os resultados da investigação efectuada e aprofundando vínculos com a comunidade empresarial de modo a diversificar as fontes de receitas. A separação entre sector público e privado na educação superior desaparece praticamente, já que ambos os tipos de instituições concorrem entre si pela atracção dos recursos do sector privado e pelas inscrições dos estudantes que, com a liberalização, acabam por dar cobertura à maior parte dos custos de funcionamento das escolas. Há maior nível de diversificação do sistema educativo e, portanto, de especialização, de diferenciação entre as instituições. A principal vantagem competitiva reside na reputação da investigação académica realizada, ainda que também se considerem outros factores como a qualidade do ensino e a empregabilidade dos novos graduados. Os recursos para levar a cabo projectos de investigação são públicos e conseguem-se, nomeadamente através de projectos competitivos tanto a nível nacional como europeu. Prestação de contas, auditorias, transparência, eficiência, eficácia, capacidade de resposta e visão do futuro, são os principais factores para boa gestão pública das instituições.

Quarto cenário: «Educação Superior, SA» corresponde a um mercado totalmente liberalizado e globalizado, da educação superior. As Us e os Ps concorrem à escala mundial no mercado de serviços docentes e de investigação. Cada uma especializa-se no que sabe fazer melhor e concentra-se na comercialização dos serviços derivados das suas competências básicas, quer seja no âmbito da docência, quer seja no âmbito da investigação. Há uma forte concorrência para atrair estudantes e muitas universidades abrem campus no exterior e é frequente o franchising de programas educativos. Coloca-se uma crescente divisão internacional do trabalho, com a especialização de alguns países, como a China e a Índia, em determinados segmentos da educação superior. A investigação tende a concentrar-se a nível internacional (M.I.T. e Fraunhofer, p.ex.) e há uma forte concorrência para contratar os melhores investigadores. Os rankings internacionais jogam um papel muito importante no posicionamento competitivo dos centros de educação. O inglês converteu-se no idioma da investigação e dos estudos de pós-graduação, enquanto que as linguagens nacionais se mantêm nos estudos de graduação e profissionais.

NOTA TÉCNICA:O dono do blogue procurou manter a fidedignidade do texto original de um resumo dos cenários propostos no CERIS (2006). Como observação pessoal, direi que se nota nos últimos desenvolvimentos levados à cena pelo MCTES, uma proposta de futuro que contem alguns elementos de cada um destes cenários em âmbitos diferentes. Em qualquer caso, seja qual for este elemento, implica um importante desafio estratégico para as universidades e politécnicos actuais, que – a bem ou a mal – vão ter que se preparar para afrontar os ventos e marés proporcionados por estas alterações climáticas, e de uma vez por todas perceber que é preciso afrontar a nova realidade mediante a implantação de modelos de direcção estratégica que lhes sejam mais adequados.

3 comentários:

Regina Nabais disse...

Se mal pergunto, Alexandre, o que é este CERIS 2006, a que se refere?
Se achar que é um abelhudamento meu, nem responda.
Abraço

Alexandre Sousa disse...

Centre for Educational Research and Innovation (CERI)

(1) Toda a gente tem direito universal a fazer perguntas, questionar, criticar, mandar bolas para fora ou à trave.
(2) DOC já seguiu pelo eMail
(3) Estes docs chegam-me via Quebec/Canadá, Serviços de Higher Education. Penso que é uma linha de ajuda ao terceiro mundo ou qq coisa parecida.

Regina Nabais disse...

Recebi. Obrigadíssima.