terça-feira, 7 de agosto de 2007

Queres notícias de baixo para cima ou de cima para baixo?


O título pode cheirar a muita coisa, mas situemos o contexto apenas nas raias da irritação. No meu posto de trabalho é função prioritária receber duas vezes ao dia, um flash das notícias veiculadas pelos meios de comunicação mais influentes, que tenham directamente a ver com os actores regionais mais importantes e visíveis, do Norte, Centro, Alentejo e Algarve. Para os mais distraídos, reforça-se o destaque de que estes nomes são regiões europeias situadas num dos membros da U.E.
O flash português desta manhã, dizia (RTP) que os elementos de um clube de futebol, neste caso azul e branco – podia ser o Deportivo da Coruña ou até o Español de Barcelona – tinham sido expulsos de um avião da TAP, ancorado no aeroporto de Portugal e despachados em autocarro desde a cidade grande até um pequeno burgo situado 300 km mais para o lado do circulo polar árctico.
Pedi mais pormenores, porque quem não se sente, não é etc. e coisa e tal.
O pormenor chegou em alguns minutos: «Existiu algures no tempo, um avião TAP que voava entre Amsterdam Airport Schiphol e Oporto Airport Pedras Rubras. Ao atravessar a Ibéria, o avião TAP foi desviado da rota para a cidade grande portuguesa...»
Os gajos do Norte exaltaram-se ao ver que nem tinham aterrado na Ota, nem Alcochete se encontrava à vista. Eh! Pá, aquilo foi do caraças. Ainda bem que temos autocarros para despejar gajos destes em direcção ao Douro.

A culpa não é dos rapazes das notícias! Reparem:
- Carlos Magno, pseudo vulto do jornalismo nortenho, vive na cidade grande;
- Xico Fininho, cantor do Porto Sentido, vive na cidade grande;
- Sérgio Godinho, cantor de "vem à memória uma frase batida... hoje é o ...”, idem;

91,37% dos anúncios publicados no ExpressoOnline durante os últimos 30 dias, referem-se a empregos oferecidos em locais de trabalho situados na região LVT.

Estamos a brincar, não?
ADITAMENTO
últimas ofertas de emprego, hoje:

Lisboa (Carnaxide)- Alfragide- Grande Lisboa- Alfragide e Loures
- Caldas da Rainha, Óbidos e Nazaré- Évora, Setúbal e Coimbra
- Algarve- Loures e Parque das Nações- Oeiras e Amadora
- Lisboa- Lisboa- Sintra- Sintra- Coimbra (Centro)- Montijo e Oriente
- Norte- Lisboa- Faro

6 comentários:

J. Cadima Ribeiro disse...

Caro Alexandre Sousa,
Estou consigo no essencial do desconforto que enuncia. Não estou quando fala de supostas regiões europeias designadas "Norte", "Centro" ... Aparte lhes faltar estatuto político-administrativo conforme, falha-lhes o essencial que é a identificação dos espaços assim designados com uma comunidade humana singular. Note que até um vice-presidente da CCDR-N o reconhece, como resultou expresso numa conversa recente em que participei, ao admitir que um espaço geográfico que se identifica por um ponto cardeal não é, verdadeiramente, uma região no sentido próprio (cultural, social, económico, histórico) do termo.
Não desista de exprimir os seus desconfortos. Eu esfor-me-ei por seguir-lhe o exemplo.
Um abraço,

Alexandre Sousa disse...

Com seriedade... todos (?!) sabemos que as regiões portuguesas foram desenhadas, à moda do tratado de Tordesilhas; o que não podemos ignorar é que apesar do fictício do desenho e do traçado, uma delas é muito mais alimentada do que as outras, mesmo sendo todas fictícias.

Um abraço

Virgílio A. P. Machado disse...

Ó carago, então o Norte (falo pela minha ascendência paterna), o Centro (falo por mim) e o Alentejo (falo pela minha ascendência materna) não são «comunidades humanas singulares»? Pelo Algarve não posso falar porque de lá só sei que, no Alentejo, quando era preciso gente para trabalhar arranjavam-se uns homens e uns Algarvios.

Quanto aos pontos cardeais, não vá dizer isso ao Porto sem consultar primeiro no dicionário o significado de «homónimo». Ou os Josés todos cá da terra têm um filho chamado Jesus?

Não se confunda simpatias futebolísticas, com ciência. Gostos e cores não se discutem, mas os colaboradores da TAP têm as mesmas qualidades e defeitos que a generalidade dos Portugueses. Aí se incluem qualificações relativamente deficitárias (coisa muito na moda). Só quem nunca teve nenhum contacto com esse numeroso grupo laboral é que não sabe. Ainda por cima andam sempre de vermelho e verde…

Alexandre Sousa disse...

Acontece aos piores & aos melhores:
Eu queria dizer tátá e afinal não me chegou a lingua...

A (não) surpresa foi proveniente do trabalho enviesado por parte do jornalista. O nosso homem podia ter enunciado os factos por ordem:
- o desvio do avião;
- a troca de vocábulos vernáculos;
- a expulsão dos energúmenos;
- o colapso do BCP e por aí fora!!!

J. Cadima Ribeiro disse...

Caro Virgílio Machado,
Onde é que descobriu isso do Norte como comunidade humana com uma história, uma economia e uma cultura singulares?
Lembro-me de ainda não há muitos anos ter lido uma dissertação de mestrado onde se dava conta da inexistência disso, por sinal, escrita por um antigo consultor do "loby" do Porto conhecido por CCDR-N.
A origem remota daquilo que hoje é a CCDR-N não vai para além de 1969 e do 3º plano de fomento. Até lá existiam, como continuam a existir hoje, o Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro e o Douro Litoral. Não custa perceber-lhes as respectivas identidades subjectivas.
Um abraço,


Ps: Caro Alexandre Sousa, desculpe as gralhas; é do calor!

Alexandre Sousa disse...

Eu tenho um amigo que muito respeito, agrónomo, arquitecto paisagista e filólogo, que naquela onda de ‘Canas de Senhorim a concelho’ me justificou por A + B, inversas e transpostas uma coisa que a mim, parolo encartado, me deixou perplexo:
- Só nas Terras de Basto, ele justificava a passagem a concelho de 9 territórios, com Cerva à cabeça.
Fazendo fé, no conhecimento deste meu amigo e nos textos do Alves Redol que falava em ‘ratinhos’ e etc., nada me custa que sejam desenhadas 11 regiões ou até mesmo 111. Coloco, no entanto uma exigência: Aquela «macacada» que lá vai mandar tem de ser eleita. Sem isso nada feito. Tal como está, até os apara-lápis são decididos na cidade grande e isso, a mim, particularmente, dá-me cabo da caderneta do pendolino.