Esta coisa de produzir gente apta para trabalhar, afinal (parece) é mesmo a sério.
Desde que alguns (fracos) movimentos começaram a acompanhar o renascimento do debate (político?!) corporativo na universidade portuguesa e se posicionaram em torno de uma palavra mágica: RJIES, que eu tenho vindo a percorrer o caminho das pedras à procura de sinais e inquietações; quando muito, o toque do sino na capela lá da aldeia já poria alguma fervura neste individualizado caldear de emoções.
Calma, calma, calma… não estou exactamente à espera que me digam o que devo pensar, o que devo escrever, se consigo ficar mais ou menos alinhado e coisa e tal. Não é nada disso!
Todos nós conhecemos os processos levados a cabo na educação superior para conseguir, melhor ou pior, a graduação de um número mínimo de pessoas que ano após ano, bate à porta dos estabelecimentos de ensino com a esperança de obter – se possível com selo branco – um diploma autenticado, reconhecido pela ordem, essa hidra que está longe de ficar em vias de extinção; se alguém se exaltar pelo facto deste animal do Co-Labor ser anti-ordem é favor passar uma vista de olhos por tudo quanto se passou nos últimos anos em termos de ‘numerus clausus’ nas escolas de medicina.
O vocábulo «empregabilidade» é completamente novo no léxico da educação superior, mas, desde há uns anos que esta palavra circula nos textos ministeriais, e indica uma transformação já em andamento. ‘Ojo’: há por aí muito espaço livre da chamada ambiguidade; se compreendêssemos esta palavra como factor crítico ou dito de outro modo, como uma exigência maior na atribuição dos diplomas (concessão de graduações) e assim uma requalificação destes últimos, tornando possível aos graduados ficarem melhor armados e mais sólidos, agora que está «do caraças» ter tijolos para enfrentar o mercado de trabalho, até se tornava engraçado adoptá-lo mesmo à séria.
Se o nosso entendimento sobre o quer dizer este termo tecnocrático, for compreendido também pela obrigação para que as entidades da educação superior criem, desenvolvam, instalem, ponham a funcionar meios institucionais de informação e de orientação para os seus alunos e para os seus graduados que começam o calvário do «preciso de um emprego», e vão por esse chão queimado a tactear uma tíbia abordagem ao mundo do trabalho, quem se poderia queixar? Infelizmente, os políticos que convidam a educação superior a apostar numa visão de empregabilidade à maneira das palavras de ordem do Maio de 68, percebem este projecto como a passagem de um ensino geral por disciplinas para outro modelo, em que a visão aponta para um ensino especializado, e pensam que esta especialização deve ser seleccionada e filtrada, com ponto de partida e começo nas exigências específicas (pontuais) do mercado. Assim, o método a ser seguido vai ser muito simples: o Estado, escutando os desejos dos empregadores (obviamente, dos seus panfletários), irá desenhar planos relativos à educação/formação superior de modo a cortar os chamados «ramos secos» (os cursos que não conduzem automaticamente a um emprego) e desenvolver (adubar) as fileiras que conduzem a um emprego certo, seguro e se possível com direito a retribuição.
Dirão os nossos sábios (os de dentro do Conselho Geral) mais os assessores ministeriais: Estão a ver? É fácil, é barato, é como pôr um fim à inadequação gritante entre as aptidões/competências evidenciadas pelos nossos graduados e as exigências do mercado. Tal como diz Zé Mariano, encontramos uma resposta rigorosa nesta aposta da adequação, uma vez que tudo isto será postulado por uma programação rigorosa. Como é timbre do MCTES.
Qu’é qu’eu, burro velho tenho a dizer sobre isto, em primeira mão?
Este discurso cheira-me a Ribeira dos Milagres, aquela que desagua no malfeitorado Rio Liz.
É que aparecem aqui, dois elementos que não ligam um com o outro: por um lado uma confiança ilimitada nas leis do mercado (o que está na moda…), por outro lado, um excesso, um exagero de auto-confiança na possibilidade do Estado (MCTES) ser capaz de decifrá-las e, o que ainda é mais hiper-difícil, de controlá-las.
Esta mistura muito genuinamente Lisboeta (elucubrada por Beirões e Alentejanos em maioria) vai com certeza receber dosagens diferentes, de acordo com as orientações politicamente socráticas; mas até desde Badajoz se vislumbra que preservará por muito tempo, um carácter contraditório.
Continuaremos a olhar, pode ser que sejamos capazes de anunciar o trevo de 4 folhas na tromba do elefante.
RN publicou um post sobre esta temática da empregabilidade, quer no Polikê, quer no Reformar a Educação Superior; obviamente merecem continuação, mesmo num pobre país que vive de 3Fs.
RN põe a tónica no sítio certo, ou seja para que o MCTES possa falar de empregabilidade dos cursos tem que ser apoiado em factos evidenciados por estudos de continuidade. Todos nós sabemos o que a casa gasta – só para o caso da OTA, foram 114 estudos – portanto para esta história da empregabilidade, chegarão meia dúzia, se possível avulso.
A(s) dinâmica(s) do emprego são estudadas com visibilidade, na Irlanda, pelo menos desde 1973, mas seguramente com estrutura planeada a partir de 1995. Há mais de 300 artigos e referências do Forfas, agência governamental irlandesa, que dedica muita atenção a esta questão do emprego (pudera, que isto de milagres parece que já não caiem do céu).
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