terça-feira, 14 de agosto de 2007

E se amanhã fosse mesmo outro dia diferente?


Há uma tendência dominante e bastante influente, por parte de uma determinada corrente de ideólogos da inovação, que aconselha as empresas, regiões, países, a reforçarem os pontos fortes que os caracterizam. Em vez de perseguirem a miragem do «equilíbrio geral», aquela gente bisa e trebisa nos esforços para se distinguir cada vez mais pelo factor D, K e W, que é aquilo que faz afastar a sua competitividade da dos outros, daqueles povos ou comunidades do café para todos.

Quando olhamos para o roteiro seguido por Einstein, aparte a tradição de nos esquecermos frequentemente, que aquilo não foi trabalho para «um homem só», podemos ver um percurso, esse sim, na perseguição da excelência e na passada pelos nós de uma rede de excelência. Sabia-se o que se estava a estudar, onde e quem dirigia a construção dos ‘papers’. Tal como agora, também se lutava contra o tempo, a uma escala diferente, é certo, mas o zig-zag está lá, bem visível.

Se esquecermos meia dúzia de sítios, hoje e em Portugal, onde até os repórteres da RTP sabem que se faz ciência, tudo o resto – nisso concordo com o Zé Mariano – é demasiado pequeno, demasiado pobre, dependente em excesso de demasiadas ‘boas-vontades’; mesmo que cada bolseiro da FCT publique 3 papers/ano e cada um destes nossos Nobel-autores seja citado no mínimo 130 vezes, isso não fará incrementar o nosso PIB em 1 único Euro.

Com ou sem RJIES, este ou o primitivo, o que se diz irá ser aplicado ou aquele que está para chegar, sabemos que o Maestro é o mesmo, que quem paga os tangos que a orquestra vai tocar também é o mesmo; que diabo, não ficava mal aos músicos deitarem faladura e dizerem de sua opinião. Queremos mais música pimba! Diriam uns. Queremos Tarantella Napoletana e a seguir Bella Ciao, dirão outros.

O primeiro passo para que os músicos possam ouvir falar da música que se toca por esses bairros da cidade grande, será dado por um esforço de transparência resultante de novos procedimentos a pôr em prática pelo pessoal da Fundação da Casa do Tiburcio.

A partir do próximo esforço de recolha de dados publicitado pela FCT e tendo em conta que o resultado antes de o ser já o era, ou seja, vão dizer-nos que há mais investigadores, que estão mais activos do que nunca e que o ‘output’ por cabeça de investigador está a crescer; óbvio, sobre os ‘outcomes’ por cabeça de investigador ninguém vai dizer píbia, mas atenção, começam a surgir problemas novos para os quais não estamos preparados: - Divulgar, difundir, aceder à informação, sem truques nem balelas.

A saída de publicações cinzentas é bastante maior do que os chamados ‘white papers’ e no entanto, a produção actual de ‘white papers’ é prodigiosa. Um problema similar, mas numa escala muito menor, ocorre no registo de patentes como output da investigação executada. Entretanto, tal como as publicações, uma área de ‘output’ da investigação (classificada geralmente como produto) está a crescer de modo muito rapido: são as séries ou conjuntos de dados da investigação e o respectivo software ‘open source’ associado. Tais materiais são cada vez mais importantes no mundo da investigação para justificar as propostas ou as conclusões de uma publicação e/ou permitir a validação por um outro investigador. Outra característica em crescendo é a possibilidade do re-propósito dos materiais: reutilizá-los para uma parte diferente do projecto de investigação, susceptível de interrelacionar estes com outros materiais e dar assim resposta a solicitações de trabalho cada vez mais em contexto interdisciplinar.

Vamos a ver se consigo sair daqui…

O anuncio da FCT está muito giro, os propósitos, intenções e premissas, faz tudo parte de uma pintura muito interessante, mas eu gostaria de acreditar que tudo isto também faz parte de uma construção, assinada por um arquitecto, e que tudo isso servirá para amanhã. Se possível, sem mudar o telhado, nem as portas, nem as janelas, nem a instalação eléctrica, nem isto, nem aquilo, nem a cor das camisolas, que hoje são pink e amanhã são orange, tão certo como eu me chamar Alberto.

4 comentários:

Rosa Silvestre disse...

Efectivamente era óptimo que amanhã fosse mesmo outro dia diferente, mas somente por milagre (desculpe o meu pessimismo)pelo menos assim acreditava Albert Einstein, nalguns dos seus textos. E falando em milagre, aqui vai o milagre da vida do mesmo autor, mais ainda pouco conhecido, mas um dos meus preferidos:

"Pode ser que um dia deixemos de nos falar...
Mas, enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo.

Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer,
Um de outro se há-de lembrar.

Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.

Pode ser que um dia não mais existamos...
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.

Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente.
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.

Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre".
Albert Einstein

Alexandre Sousa disse...

O que se torna agradável e sorridente é acreditar que o nosso Alberto tinha crença naquilo que pensava e escrevia. Será que estamos mesmo, mesmo, muito mais pessimistas?

Rosa Silvestre disse...

Olá Alex, no meu caso ainda não estou afectada pelos efeitos benefícos das férias .... pode que após as mesmas, observe o que se passa com outros olhos....pode ser...como diz o Zé (não é o outro Zé, subtende-se...) povimho "a esperança é a última a morrer" or not?...

Alexandre Sousa disse...

A minha modesta previsão meteorológica aponta para a chegada de chuvas hiper-torrenciais. Em especial, os que ainda vão fazer férias, deveriam levar apetrechos para sobreviver à tona da água...