domingo, 9 de março de 2008

Bologna + 2



Confesso que tenho estudado o processo de Bologna muito mais a partir do que se passa noutra parte da Europa do que cá dentro. Com alguma vontade de simplificação ▬ vícios do ofício pagam dividendos ▬ divido o processo em duas partes.
Um, o que ocorreu pretensamente entre 1999 e 2005, culminando com a publicação do 74/2006, regime jurídico dos graus e diplomas do ensino superior.
Dois, o que ainda não se seguiu, com a procissão seriquitando no adro da igreja, e tem a ver com a nova ideia de instituição da educação superior, declarando à cabeça que esta é uma prestadora de serviços diversificados (oferta de conhecimento e formação de capacidades), posicionando-se concorrencialmente num mercado alargado de clientes indiferenciados.

Tudo (quase tudo) o que aconteceu nestes 90000 km2 ao longo destes últimos dois anos no ambiente IES está directamente ligado ao parágrafo anterior:
■ RJIES
■ AAAES
■ FUNDAÇÕES
Actividade regulamentada porque não há mais modelo único de IES.
Agência de Avaliação e Acreditação para a Garantia da Qualidade do Ensino Superior a quem caberá assegurar a integração de Portugal no sistema europeu de garantia da qualidade do ensino superior. A Agência espera ser dirigida por um conselho composto por personalidades de reconhecido mérito, independência e especialização na área da garantia da qualidade do ensino superior e da ciência. A este conselho caberão as decisões em matéria de avaliação e de acreditação dos estabelecimentos e cursos de ensino superior. Ainda estamos com fila de espera na dependência aleatória da agenda política deste Governo que tem aversão evidenciada por tudo quanto cheira a planos ou programas para cumprir.
Fundação U.P. como teste ácido da entrada no mercado, de novos concorrentes, num formato inovatório de competição em que ninguém pode (nem deve) confiar em ninguém.

Regressando ao auto-envolvimento 2005/2006, sou testemunho vivo de um processo que se diz participado (?!). Fiz seguimento à lupa do fenómeno desenrolado em dois pólos de ensino, um universitário e outro politécnico. Num dos casos – universitário – o gerente percebeu que não tinha muito tempo disponível para o rolo compressor esmagar um ano de licenciatura e vai daí, olhou durante 48 horas para todos quantos tinham «facturas para pagar». No fim do tempo de jogo, passou uma folha Excel para cada um dos directores de curso (4 cursos no Departamento) e pediu-lhes para acertarem a contagem dos ECTS. Após um Go-and-Back mínimo, tudo terminou em bem, mau grado a senhora Reitora ter visto perder alguns dos seus indefectíveis mais as pseudo disciplinas que leccionavam. No outro caso, politécnico, tudo se passou funcionalmente: o presidente nomeou um dos adjuntos para que fizesse o trabalho de casa e trouxesse a folha de Excel sem mácula; assim foi feito by your command.

Mas Bologna não é só isto. «Isto» é o cumprimento por parte do Estado – dono da educação superior – face aos compromissos internacionais assumidos. Uma coisa é harmonizar multilateralmente os sistemas nacionais de acreditação e avaliação da qualidade constituindo um mercado comum de educação superior; outra coisa é o desaparecimento dos vários modelos que têm vindo a coexistir na sociedade Europeia.
Prioridade ao ensino ou à investigação ou à troca de sinergias?
Que coisa é esta do desenvolvimento das competências?
Como organizar Planos de Estudo? Personalizados?
Ensino-Aprendizagem com enfoque no trabalho do Estudante?
Ensino-Aprendizagem mais cooperativo? Mais colaborativo?
Avaliação? Avaliação? Avaliação?

Afinal, qual é o desvio estimado entre o graduado que a empresa quer contratar e o jovem bacharelado que lhe aparece na caixa do correio a deixar um currículo de ½ página A4, Times New Roman, fonte 14?
E isso conta para alguma coisa neste processo de Bologna?

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