quarta-feira, 30 de abril de 2008

(Às vezes…) A separação entre verdade e mentira pode não ser mais espessa do que…




Confesso que esta história do António Raposo, professor da educação inferior durante 30 anos, cujos documentos de habilitação para o exercício da profissão não foram aprovados, me deixou inquieto.
Confesso que exerci a profissão de educador no patamar superior em duas instituições públicas e os documentos que, pretensamente, me habilitaram para o exercício do mester eram (são) simples fotocópias, cujos originais estão guardados por mim na Casa do Pujal.
Prestei provas públicas de aptidão pedagógica e capacidade científica... presididas pelo nosso venerado ministro Fernando Teixeira dos Santos, tudo isto acrescido de outras cenas chamadas 'pós-graduação' que, eventualmente, serão tidas mais em conta do que as já citadas fotocópias. Isso nunca me impediu (nem impedirá) de dar o mais valioso e alguns tostões, para frequentar sessões avulso e/ou por atacado, de tudo quanto cheirar a educação/formação interessante e inovadora.
Quero dizer tátá e a língua parece entaramelada… pois então não é que, eu sinto, apesar do meu envolvimento anos e anos a fio num desanimador doutoramento em economia do desenvolvimento quando todos os craques já tinham queimado os livros que haviam escrito, apesar de ter levado (muito) a sério um mestrado em gestão da ciência (de que gostei), apesar de – displicentemente – maltratar um doutoramento de meia tigela em gestão industrial, sou obrigado a confessar ao mundo, que o portefólio suporte das minhas andanças no ensino/educação/formação provem da Escola Técnica da IBM, das estadias nos laboratórios da Lyonnaise des Eaux, da passagem pela Daimler-Benz, dos projectos do Ikerlan, do curso de formação de formadores vulgo CAP que apesar de não ser obrigatório (tenho mais de 20 anos registados no ensino) gostei de fazer, do tempo que passei em Eindhoven, Cambridge, Glasgow, S. Francisco, Salt Lake City, Aalborg, dos seminários que a U.A. me proporcionou ao longo dos últimos anos, das horas agradabilíssimas que passo com os meus alunos dos MBAs (pagas a 80 Euros/hora), dos meus roteiros como andarilho que só terão fim na hora da grande viagem…

Receio, que uma cuidadosa sacudidela de papéis, em qualquer uma das instituições públicas da educação superior, possa fazer voar pela janela das Administrações um bom lote de certificados, diplomas e outras garantias feitas na mesma fotocopiadora que trabalhou para o António Raposo. Hesitante, até porque posso ser julgado como conivente em falsificações de documentos e promoção de habilitações não certificadas, acabo de afirmar neste espaço de comunicação, aos quatro ventos, que estou disponível para testemunhar a favor do António Raposo. Desse facto, já fiz seguir carta pessoal com essa decisão.

Estava eu a lucubrar sobre este e outros quiproquós, quando recebi mensagem de uma colega nossa, ilustre, a rejeitar um artigo de minha autoria, que ela havia solicitado para Revista que a Senhora coordena e publica. Acompanhava a rejeição, um bem elaborado tratado linguístico que se desdobrava ao longo de 6 páginas.
Li com todo o cuidado a prosa da minha amiga. Atribui 100% de credibilidade às razões da sua (dela) mágoa, pela porcaria de prosa que eu lhe havia enviado.
Escrevi-lhe com grande simpatia a oferecer o meu ombro para tão grande tristeza.
Acreditem que regressei ao famigerado texto e à resma de correcções sugeridas pela nossa doutora. Senti-me assim a modos que mentiroso computacional.
Helas!
O meu artigo pretendia ser um resumo de uma colecção de textos que Eu escrevera originalmente em inglês, para os meus alunos da UTA-UFA. Trapalhão como sou, meti o inglês original no Google Translate e verti aquilo para português. Juro, andei às voltas com 12 páginas de tradução automática durante 2 semanas (a espaços). Também me pareceu que o resultado final teria ficado melhor, se reescrito à pata pelo autor.
Mas, só eu sei, que a diferença entre uma história assim vivida, assim contada, ser verdade ou mentira, possui uma espessura que não é mais do que a…

É por histórias como esta, e outras ainda mais inverosímeis, que eu escrevi ao António a oferecer-me como testemunha. Só vos sei dizer que, se o António me aceitar, vai ser o bom e o bonito para o Juiz me aturar.

Sem comentários: